7 de maio de 2009

Sobre o bloqueio não se disse uma palavra


Por Fidel Castro

O governo dos EUA anunciou, através da CNN, que esta semana Obama visitará o México, iniciando sua viagem rumo a Puerto España España (Port of Spain, capital de Trinidad e Tobago), onde estará durante quatro dias para participar na Cúpula das Américas. Anunciou o abrandamento de algumas restrições odiosas impostas por Bush aos cubanos residentes nos Estados Unidos para visitar seus familiares em Cuba. Quando se questionou se tais privilégios se aplicariam a outros americanos, a resposta foi que eles não estavam autorizados.
Do bloqueio, que é a mais cruel das medidas, não se disse uma palavra. Assim se chama de forma piedosa o que é na verdade uma medida genocida. Os danos (causados pelo bloqueio) não se medem só por seus efeitos econômicos. Constantemente custam vidas humanas e causam sofrimentos dolorosos a nossos cidadãos. Vários equipamentos de diagnóstico e remédios vitais não são acessíveis para os nossos pacientes, mesmo que venham da Europa, do Japão ou de qualquer outro país, se utilizarem determinados componentes ou programas dos Estados Unidos.

As restrições relacionadas à Cuba devem ser aplicadas pelas empresas dos Estados Unidos que produzem bens ou prestam serviços em qualquer parte do mundo por causa da extraterritorialidade. O influente senador republicano Richard Lugar, outros de seu partido com o mesmo título no Congresso, e um outro número significativo de senadores democratas são a favor de acabar com o bloqueio. Estão criadas as condições para que Obama empregue seu talento em uma política construtiva que ponha fim à que tem fracassado durante quase meio século.
Por outro lado, nosso país, que tem resistido e está disposto a resistir quanto for necessário, não culpa Obama pelas atrocidades cometidas por outros governos dos EUA. Tampouco questiona sua sinceridade e seus desejos de mudar a política e a imagem dos Estados Unidos. Compreende que ele lutou uma dura batalha para ser eleito, considerando os preconceitos de centenas de anos.

Com base nisto, o presidente do Conselho Estadual de Cuba expressou sua disposição em dialogar com Obama e, com base no estrito respeito à soberania, normalizar as relaciones com os Estados Unidos. Às 14h30, o chefe de Interesses de Cuba em Washington, Jorge Bolaños, foi citado pelo subsecretário de Estado Thomas Shannon, no Departamento de Estado. Nada do que ele falou foi diferente do havia sido mostrado pela CNN.
Às 15h15, teve início uma grande coletiva de imprensa. A essência do que foi dito lá está contida nas palavras do conselheiro presidencial para a América Latina, Dan Restrepo, que afirmou:

“Hoje o presidente Obama ordenou que sejam tomadas certas medidas, certos passos para estender a mão ao povo cubano, para apoiar seu desejo de viver com respeito aos direitos humanos e para poder determinar seu próprio destino e o destino de seu país. O presidente deu instruções aos secretários de Estado, Comércio e Tesouro para iniciar as ações necessárias a fim de eliminar todas as restrições sobre os indivíduos para poderem visitar seus familiares na ilha e enviar remessas de dinheiro. Ele também os instruiu a tomar medidas para permitir o livre fluxo de informação entre o povo cubano e os quem estão em Cuba e no resto mundo, e para facilitar a entrega de recursos humanitários enviados diretamente ao povo cubano. Ao tomar essas medidas para ajudar a reduzir a distância entre famílias cubanas divididas e promover o livre fluxo de informação e de artigos de ajuda humanitária para o povo cubano, o presidente Obama se esforça para cumprir os objetivos estabelecidos durante a campanha e desde que assumiu o cargo. Todos aqueles que crêem nos valores democráticos básicos querem uma Cuba que respeite os direitos humanos, políticos, econômicos, básicos, de todo o seu povo. O presidente Obama considera que estas medidas ajudarão a tornar esse objetivo realidade. O presidente incentiva todos os que compartilham esta vontade a permanecerem comprometidos com seu firme apoio ao povo cubano. Obrigado”

Ao finalizar a conferência o assessor confessou com franqueza: “Tudo isso é pela liberdade de Cuba”. Cuba não aplaude as erroneamente chamadas Cúpulas das Américas, onde os nossos países não discutem em igualdade de condições. Se serviram para algo, foi para fazer análises críticas de políticas que dividem nossos povos, saqueiam nossos recursos e impõem obstáculos ao nosso desenvolvimento Agora só falta Obama persuadir todos os presidentes latinoamericanos que o bloqueio é inofensivo. Cuba tem resistido e resistirá. Não estenderá jamais as suas mãos para pedir esmolas. Seguirá adiante com o rosto erguido, cooperando com os povos irmãos da América Latina e do Caribe, haja ou não Cúpulas das Américas, presida ou não Obama os Estados Unidos, um homem ou uma mulher, um cidadão branco ou negro.

http://www.correiobraziliense.com.br/html/sessao_4/2009/04/15/noticia_interna,id_sessao=4&id_noticia=98589/noticia_interna.shtml


Um comentário:

  1. Avante!
    Ao ler o texto até a metade quase acreditei que o Comandante estaria confiando no Obama. Mas quem sou eu, ou somos nós pra achar que Fidel iria se enganar assim, mais uma vez ele põe Cuba no lugar onde deve estar, de rosto erguido, firme e forte e não aquele país pobre coitado que os norteamericanos escrotos querem a todo custo passar para nós.
    A idade chega, mas o raciocínio cada vez melhor!
    Quem dera tivéssemos um comandante assim, e melhor ainda seria se nosso povo brasileiros fosse consciente e resistente como o povo cubano.
    Forte nós somos, agora nos falta agir!

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