6 de maio de 2009

Degeneração total dos valores


Escrito por Waldemar Rossi

Como é triste ouvir de alguém que deveria ser o exemplo da integridade moral defender a prática generalizada da corrupção! Foi lamentável ouvir o presidente da República dizer publicamente que é "hipocrisia" o debate sobre o festival de passagens aéreas para parentes e amigos com dinheiro público. Ainda mais que confessou o próprio crime ao afirmar que, quando deputado, cedeu passagens a que tinha direito como parlamentar para beneficiar amigos sindicalistas.

Assim, dá a entender que, como sempre houve corrupção, nada de anormalidade há nisso e todos podem praticá-la, inclusive ele. É bem um sinal de autodefesa. Sem dúvidas, esse debate é farisaico, pois seria difícil escapar algum parlamentar ou ministro, se houvesse uma verdadeira devassa e, por isso, tudo vai terminar em pizza novamente. O Lula foi "honesto" ao dizer o que pensa, mas praticou um crime de prevaricação e crime declarado.

Imagino como devem ter se sentido as pessoas corretas que o defendem com convicção, crendo que ele vinha agindo corretamente! Se somarmos mais essa a tudo o que vem fazendo nos seus mais de seis anos de governo - compra de votos de parlamentares, tolerância e defesa do mensalão, entrega de terras públicas para grandes grileiros, recebimento em larga escala de dinheiro de empresas envolvidas em escândalos para financiar sua campanha eleitoral, e as dos candidatos do partido etc. etc. etc.. –, veremos que a degeneração dos costumes sadios, patrimônio universal, se tornou geral na prática da política institucional.

A degeneração não pára por aí

Outra constatação – que, aliás, já vem de longo tempo – é em relação a um partido que continua se dizendo de esquerda e revolucionário, o PC do B. Foi com certa surpresa que assistimos à sua corrente sindical – a CTB (Central dos Trabalhadores do Brasil), ao lado de outras duas centrais (UGT e NCST) - promover mais uma divisão nas celebrações do 1º de maio (dia consagrado mundialmente à memória dos mártires da classe operária) com show. Ainda por cima, colocando Airton Senna no mesmo patamar de Santo Dias da Silva.

O primeiro, Senna, morreu num acidente de carro durante uma corrida da Fórmula 1, a serviço de uma empresa capitalista, a Willians, empresa do ramo do automobilismo e exploradora de trabalhadores. O segundo, Santo Dias da Silva, liderança sindical, assassinado durante a greve dos metalúrgicos de 1979, na porta de uma fábrica, pela polícia militar de Paulo Maluf, que governava a serviço do capital, portanto, mais um mártir da classe trabalhadora. Colocar os dois no mesmo patamar é enxovalhar a memória de milhões de mártires operários, inclusive comunistas convictos, que deram suas vidas em defesa da justiça social e de uma sociedade de igualdades, sem exploradores e sem explorados. Pior ainda é saber, pelo material fartamente distribuído, que os gastos com tal evento foram bancados por empresas como Casas Bahia, Telefônica, Furnas, Colombo - além dos bancos Bradesco, Santander, BVA, Itaú, BB, Caixa, BR-Petrobras.

Assim, explica-se que, para a abertura da exposição da Lottus (entre outras coisas pessoais de Airton Senna, dia 22 de abril), foram convidados autoridades, empresários, artistas e sindicalistas. Uma verdadeira aliança de classes, onde "sindicalistas" se igualam a empresários, espoliadores do trabalho alheio, em contradição marcante com a rica história de tantos Partidos Comunistas pelo mundo afora.

Tal fato também explica o porquê de tal virada, uma vez que muitos dos parlamentares do PC do B também se beneficiaram das benesses de empresas para suas campanhas eleitorais, inclusive de empresas denunciadas por corrupção, como a Camargo Corrêa, por exemplo. Quem se vende por R$ 1,00, mais facilmente se vende por milhares de reais.

Não seria mais sério mudar o enunciado do seu "C", trocando "Comunista" por "Capitalista"? Quem te viu... quem te vê!

Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.

http://www.correiocidadania.com.br/content/view/3241/48/


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