O que aconteceu no dia 09/06 (ontem) na USP foi um pouco mais do mesmo do que ocorre costumeiramente nas ações contra movimentos sociais no Brasil, é parte do hábito de criminalizar os movimentos que denunciam as injustiças sociais, afinal é mais fácil criminalizar do que aceitar a responsabilidade pelos graves problemas sociais que enfrentamos. O padrão é sempre o mesmo: a polícia (geralmente apoiada pela mídia) afirma que foi atacada (oh! pobrezinha…tão desprotegida….) e por isto reage atirando balas de borracha, gás lacrimogênico, bombas de efeito moral, cassetadas, bordoadas, e, no caso de trabalhadores pobres (como os lavradores de Eldorado dos Carajás) ou dos próprios estudantes na época da ditadura, balas de verdade mesmo. Tudo isto ocorrido no ano que faz 40 anos da edição do Decreto 477, o AI-5 dos estudantes. Depois vão dizer que a memória não é importante…
Não podemos esquecer também que não é só porque essa violência policial aconteceu em um campus universitário que ela se torna inadmissível. A barbárie e a desumanidade tem que ser repudiada em qualquer campo ou lugar, seja ele a universidade, a favela ou o presídio.
Este é o saldo da nossa violência institucional mal resolvida. Esses soldados foram treinados para agir assim: com truculência e certos de que não serão punidos por isto. Ao invés, o medo da punição vem do não cumprimento da ordem vil, já que a hierarquia militar é implacável.
Sobre o episódio da USP, reproduzo abaixo texto publicado pela saudosa Profa. Deisy Ventura (te cuida por aí Deisy!) no seu Blog “Direito e Arte” (http://direitoearte.blog.lemonde.fr/). Abaixo do texto da Deisy, estão os links para textos e fotos sobre o episódio. Veja também relato do Prof. Dr. Pablo Ortellado, escrito enquanto a polícia descia o braço nos manifestantes (ZK, 10/06/2009).
Por incrível que pareça, o eixo do discurso oficial sobre a ocupação da USP pela Polícia Militar é uma ordem judicial, expedida in limine. A inépcia política atinge, então, até o monólogo que cerca a aguda incapacidade de diálogo das autoridades com os manifestantes. Surpreende, também, o repentino patrimonialismo de atores que têm consentido na dilapidação paulatina da universidade pública, mesclado a um desprezo rancoroso por qualquer tipo de insurgência - manifestar-se seria anacrônico, ridículo, pueril. Logo, sem vontade ou talento para construir outra cultura política, de todo desprovidos de aptidão para dissensos, diferenças e conflitos, agentes públicos recorrem ao que o Estado brasileiro sabe fazer tão bem: eliminar o conflito, humilhando quem dele discorda. O campus se torna, então, um microcosmo da violência e da ausência de comunicação que grassam no mundo. Ora, não há porta de vidro ou armário que valha um fio de cabelo ou a voz de um estudante, não importando a que grupo ou partido ele pertença. Em nossa cultura, porém, bater em pobres e militantes é esporte institucional - e quem apanha é porque “provocou e mereceu”. Em resumo, vão-se os militares, ficam os dedos. Mas quando esta liminar for legitimamente cassada (e se direito existe ela o será, sobretudo diante da cabal prova de que a Polícia Militar não sabe se portar num campus universitário) qual será o eixo do debate sobre a violência na USP? (Deisy Ventura, 10/06/2009).
Fotos:
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2009/06/448641.shtml
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2009/06/448626.shtml
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2009/06/448656.shtml
Vídeos:
http://www.youtube.com/watch?v=xwL-b6LUOb4
http://www.youtube.com/watch?v=sIVLuuag9G0
http://www.youtube.com/watch?v=YNAzxgGtGpA
http://www.youtube.com/watch?v=deUf8An9Q1o
Matérias:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u579010.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u578886.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u578870.shtml
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