29 de novembro de 2010

Defini-la?

Defini-la? Impossível!

Talvez seja vinho tinto, suave ou seco (tanto faz)

Tequila com sal ou puro, tomaria sem pensar

Sem pestanejar

Caipirinha, das fortes, tradicional com cachaça

Samba, MPB, Bossa Nova...Santo forte?

Teoria, literatura, poesia, tambores de roda

Exagerado, eu? Talvez

Olhos esverdeados nas noite paulistanas, cabelos vermelhos subindo

Entre seus dedos

Me faz sonhar

Pescoço nu, vampiro eu?

Quem sabe, talvez seria – adoraria

Açaí com Água de Coco?

Caetano ou Vinícius? Tanto faz!

Se fizessem definir você

Guarulhos ou Congonhas

Na próxima vez?

O nome garanto saber

Para não apresentar-me louco, insano

Milena? Talvez!


Por Willian Conceição


Depois das loucuras desses dias

Depois das loucuras desses dias, me chame para um café parisiense, londrino, florianopolitano ou se preferir até mesmo o paulistano, me ensine a ser como Baudelaire, um Flâneur ao caminhar na cidade, "errante" e sem ser percebido, somente a observar a multidão que passa, desagregada de si mesma, posta na pós-modernidade. A fragmentação e o deslocamento das identidades dos sujeitos, servirá para pensarmos o todo, ainda não chegamos (nós dois e alguns poucos) nesse pós, mesmo distraídos e sem algumas certezas do futuro, nosso olhar ensurdecedor, buscará o belo e as pouquíssimas certezas que restam em meio da multidão das grandes cidades.

24 de novembro de 2010

A Lua talvez não seja mais o reduto de São Jorge e nem de qualquer santo, o seu vermelho é reflexo dos ruivos cabelos dela.

23 de novembro de 2010

COUTO, Mia. Cada homem é uma raça; A Rosa Caramela. Editora Caminho. 3ª edição.1990.

Entre os mortos e vivos. O colonial e o independente. Entre raças? Cada homem é uma raça, possui algo que é próprio, todos com seus conflitos, vivenciado de formas especificas. “A pessoa é uma humanidade individual. Cada homem é uma raça, senhor polícia”. Mia Couto, consagrado autor moçambicano em seu livro 'Cada homem é uma raça' narra experiências aparentemente, quase que sempre de um olhar, jovem. O jovem permeado de conflitos, permeado dos seus, permeado por tantos outros, das pessoas que entre-cruzam seu caminho, da nação recém liberta, no conto 'A Rosa Caramela', Mia surgi do olhar de um jovem, na sua trajetória, o rapaz vive com a família, do problema de coração do pai, a impossibilidade de melhoria de vida da família, as reclamações da mãe, vitimas da doença do pai, a obrigatoriedade de trabalhar tornar-se sozinha da figura feminina. O pai, encadeirado vive quase que unicamente a lastimar seu destino cruel. No contexto a estória se dá em período de independência do país. O velho, ou seja o colonial é negado. O que seria de uma pessoa que fosse vista, a declarar-se apaixonada por uma estátua, é uma pedra, ora o conto trata-se de Rosa Caramela, a corcunda que amava estátuas, inclusive de colonialistas. É possível amar uma estátua colonial, num país no pós-colonial? Louca? Mia, trabalha a “loucura”, o criado, o imaginário entrelaçado com o real e o irreal da vida de uma mulher, 'Rosa Caramela' que vive a amar as estátuas e sofre por um amor perdido. O amor perdido, real ou irreal? Mia é capaz de mergulhar nos personagens, criando duvidas, aguçando-nos a questionamentos sobre os dramas, os personagens possuem segredos, segredos que faz agarrar-mo-nos em suas palavras. Podemos nos ver no conto, vitimas de desilusões somos todos, de loucuras. Como a de Rosa Caramela? Posso dizer que sim, o que ela expressa no conto, é um pouco de nós, da gente, dos apegos e das carências que as desilusões das separações e dos conflitos nos fazem construir. O mundo, ora estagnado com o certo da loucura, outra em movimento, as incertezas, o mundo afinal estaria sempre interligado, me parece que é algo presente nos contos de Mia Couto. Sua capacidade de nos envolver é magistral, envolver de forma a mergulhar profundamente e construirmos um contexto pra além de suas palavras. A Rosa, marcou-me pela capacidade do auto de tornar o seu drama especifico em comum.



20 de novembro de 2010

A imagem que criamos: 20 de novembro e os desafios da desconstrução da democracia racial

Willian Luiz da Conceição*

Morreu na luta, um negro a ser lembrado – Zumbi dos Palmares, diziam. Apesar das controvérsias que hoje os estudos apontam acerca deste importante personagem da resistência ao sistema colonial escravista brasileiro, a data de 20 de novembro, dia de sua morte em 1695 tornou-se símbolo da consciência negra e do pensar a condição da população afro-brasileira no país.

Sem vitimismo, é importante lembrar que o Brasil teve como base de sua formação o sangrar de milhões de corpos humanos, desumanizados, inferiorizados e forçados como bichos nos engenhos, cafezais e minas. De todos os cantos do continente africano viriam, diversas culturas, formas de ser e ver o mundo – essa pluralidade pode ser compreendida como sendo própria do continente africano. Negada sim, apagado através do atlântico, não.

É através da história da resistência desses povos no Brasil e de seus descendentes, expresso nos quilombos que resistiram e resistem até hoje, nas centenas de revoltas, no samba de roda, do candomblé e da macumba, da luta do movimento negro por direitos sociais, assim como do levante dos malês de 1835 na Bahia, que a data de 20 de novembro permaneceu para construir um olhar crítico da história e da realidade infame que são vitimas a população afro-descendente mesmo após a abolição formal de 13 de maio de 1888.

O mito da democracia racial e da eliminação do preconceito a partir de um país mestiço, simbolizado e apregoado na obra de Gilberto Freyre, Casa Grande e Senzala conduziu-nos a pensar a importância cultural do negro para a identidade nacional, mas essa foi incapaz de apagar a estrutura desigual e racista que está intríseca no Brasil. Invisibilizados, são as maiores vitimas da insegurança pública, acarretam as piores condições de trabalho e moradia, possuem as maiores dificuldades no acesso a universidade e a saúde pública, mesmo sendo metade da população brasileira (PNAD 2005).

A arte, a literatura são expressões de uma retórica/discurso e refletem um olhar e uma tese sob dada realidade. Para isso é importante analisa-las e perceber como foi construído e pensado o negro. na obra do espanhol Modesto Brocos erradicado no Brasil, intitulada 'Redenção de Cã', é retratada a salvação dos descendentes Cã, filho mais jovem de Noé. Cã é pai do servo Canaã, origem dos camitas e dos diversos povos de “raça” negra, esses estariam condenados à servidão, segundo o pensamento que justificou a dominação dos europeus sob essas populações. O quadro representa a forma segundo o artista, que esses povos teriam para alcançar o perdão e quebrar a maldição de serem negros – a mestiçagem.

Na imagem está uma avó negra, uma filha mestiça, um genro de tipo ibérico, deste processo nasce uma criança branca. A teoria do intercruzamento entre brancos e negros levaria a um branqueamento da população, onde os negros desapareceriam gradualmente. Chegaríamos no século XXI sem negros no Brasil, afirmavam. Este foi o discurso muitas vezes apresentados pelas elites brasileira a nível internacional, expondo o grande exemplo brasileiro de democracia racial. Aqui aparece o negro como imagem a ser superada, desta forma cria-se uma hierarquia étnica onde o mestiço é uma etapa na busca do padrão ideal, leia-se o branco.

Multi-étnico o brasileiro é de fato, mais o importante é que possamos refletir na imagem que construímos acerca dos afro-brasileiros e o papel que essa população tem em nossa sociedade. Nosso desafio como nação é assumir as especificidade que nos deram origem, as desigualdades que nos assolam, desta forma é fundamental assumirmo-nos como nação racista que somos, para que o conjunto da sociedade possa debater abertamente nossos problemas e assim tornarmos capazes de alcançarmos uma verdadeira democracia.

* Willian Luiz da Conceição é acadêmico de História, Militante Social e bolsista/Pesquisador do Núcleo de Estudos sobre Relações Interétnicas (NUER/UFSC).

ligaspartakus@gmail.com



17 de novembro de 2010

O mundo de ponta-cabeça talvez seja a melhor tradução do contemporâneo universo humano que vivenciamos, obviamente que a expressão ‘O mundo de ponta-cabeça‘ exposta por Christopher Hill não tem maior significado nesse nosso contexto.