29 de outubro de 2010

Na superfície da realidade vivemos no auge da ‘Belle Époque’ (belos tempos) brasileira, mais no subterrâneo desta mesma, a realidade grita e agoniza de forma desesperada e sem ser ouvida. É incompreensível que a mascara esteticamente falseada da realidade possa conduzir-nos a pensá-la como legitima arte contemporânea.

Willian Conceição

20 de outubro de 2010

A imagem do isolamento

Hoje por poucos instantes senti a vontade de ficar sozinho

Talvez um cinema fosse um ótimo programa para ver pessoas diferentes de longe, afastadas cada um com o seu mundo

A correria dos dias tem interrompido as possibilidades de respirar fundo, de conversar sobre o mar que há tempos não enxergo, as estrelas que somem e aparecem ao anoitecer, que só dou-me conta de sua existência nas nubladas ou de chuvosas noites quando estas não se fazem presentes

A busca pelo isolamento durou poucos minutos, mais o sentimento que dele iniciou permaneceu e ainda foi incapaz de apagar-se na escuridão do fim do dia que já chegou

As ruas cobertas de gente, num fluxo constante e frio propiciaram a negação de qualquer olhar de qualquer contato de vida, de qualquer convite de café em qualquer cafeteria ao modo francês, para papear os velhos e novos assuntos desta conjuntura infame

A falta das mulheres que estiveram por aqui e agora somem como as estrelas, faz-me pensar sobre a arte, a literatura, a musicalidade, mas percebo que os sons dos gemidos desapareceram também
Ao controlar o desejo de ir ao cinema, por não ter nada aparentemente interessante que possa se considerar cultura, dentro dos conceitos mais conservadores e eurocêntricos – continuei a caminhar com a gente louca da cidade

A imagem de uma mulher nua me veio à mente, seu corpo esteticamente, padronizadamente burguesamente moldado tomou meu imaginário

Os brincos trocados nas frias e deliciosas orelhas, os colares compridos e belissimamente coloridos seriam as únicas peças que compunham seu modelito

Talvez amanha o dia renasça, com ele as pessoas estejam mais humanas eu desista da vontade de ir no cinema e me isolar, a noite aquela que das orelhas, colares e brincos trocados, possa aparecer e trazer consigo as estrelas


Willian Conceição é acadêmico de História

17 de outubro de 2010

A Primavera

As cores da primavera ainda não desabrocharam

Será que elas iram florir?

Quando se perde um grande e ilusório amor

Quer-se logo que a primavera apareça

Pra que com ela traga um grande novo amor, tão ilusório quando o anterior

Que as cores por estante volte e com elas as magoas possam desaparecer

Caminho pelas ruas com chuviscos que caem a molhar-me

A dor de garganta nesta noite é o único resultado que se expressa das olhadas encantadoras que surgem nos botequins noturnos da ilha

Do samba, minha fama de malandro me faz tirar bons proveitos, mais ainda assim são insuficientes para que a primavera volte e afaste o frio decadente do inverno que negasse a ir embora

O prazer do sexo que agora me toma parece ainda frio, em outros verão e em certos momentos doloroso demais para continuar

Os seios cheirosos das moças que me procuram, os gemer dos dentes e o suor dos corpos me espiram
Talvez seja o inverno constante que não passe que me faça querer viajar pra Sampa
Para o norte quem sabe as coisas esquentemMais ainda procuro aquela que levará o inverno, florirá a primavera para que as estações não passem sem que eu não sinta o melhor que nelas existem.

Willian Conceição é acadêmico de História e autor deste blog

9 de outubro de 2010

O que Jonh Lennon tem a nos dizer?

O que dizer a nossa geração fast food que não conheceu marcos históricos da música mundial como Jonh Lennon? Hoje o Beatle número 1º faria 70 anos se não fosse assassinado em 1980. Apesar das músicas da banda britânica Beatles, a qual era integrante ser ícone de vendas em todo mundo, com cerca de 3 milhões cópias vendidas e mais de 200 mil no Brasil poucos da nossa geração compreendem a mensagem que Lennon desejava levar ao mundo, através de suas músicas e declarações bombásticas.

Figura emblemática Lennon moveu uma geração pós-guerra com a mensagem da paz e da liberdade, acusou e contestou o papel do cristianismo como estrutura que utilizava a fé para agir em outros campos como a política e a economia. Podemos afirmar que sua obra musical encontra no hall das engajadas politicamente.

Ser pessimista no âmbito da musicalidade principalmente a partir dos anos 90 é ser limitado. O pessimismo é pouco para corresponder a verdadeira tragedia que estamos a vivenciar. Nossa juventude foi ceifada pela lógica neoliberal que transformou tudo em mercadoria. Sem contestação, nem participação política e sentidos de transformação social vivenciamos uma crise de toda uma geração. Talvez seja o momento de resgatar os grandes marcos, as grandes figuras nacionais e internacionais da música, da arte, da literatura, dando espaço ao pouco do novo que vem se produzindo. Mas, como faze-lo? Regatando a mensagem de Jonh e outros, sem transforma-los somente em encartes na pratilheiras das lojas? Não sei! A cada estante que paro para pensar, fica claro que nosso desafio é maior das que os Beatles presumiam. Enfim, seguiremos!


Willian Conceição é acadêmico de História


Imagine - Jonh Lennon


Imagine

Imagine não existir céu

É fácil se você tentar

Nenhum inferno abaixo de nós

E acima apenas o espaço

Imagine todas as pessoas

Vivendo para o hoje

**

Imagine não existir países

Não é difícil de fazê-lo

Nada para matar ou por morrer

E nenhuma religião

Imagine todas as pessoas

Vivendo em paz

**

Você pode falar que eu sou um sonhador

Mas não sou o único

Desejo que um dia você se junte a nós

E o mundo, então, será como um só

**

Imagine não existir posses

Surpreenderia-me se você conseguisse

Inexistir necessidades e fome

Uma irmandade humana

Imagine todas as pessoas

Partilhando o mundo

**

Você pode falar que eu sou um sonhador

Mas não sou o único

Desejo que um dia você se junte a nós

E o mundo, então , será como um só .


8 de outubro de 2010

“Não acreditem no impossível”! Agradecimentos.

Uma pequena historinha

Havia um homem que já não sonhava, e desta forma vivia a caminhar sem rumo pelas ruas e vielas dos guetos que sua sorte o tinha apresentado.

Não era velho, nem jovem, teria perdido o sentimento da liberdade a muito, caminhava a beber para matar a fadiga dos trabalhos dolorosos que o mundo lhe atribuía.

Nem as caminhadas, nem a bebedeira infame, muito menos as dores haveriam de fazê-lo esquecer os sonhos da juventude. Para ele a realidade teria transformado-se numa cruz de pedra, grandiosa e pesada, tanto, quanto a do próprio Cristo a séculos pregado por suas falácias desagradáveis aos donos do poder.

Não tinha sido crucificado como Cristo, porém a morte era sua vida e a vida tinha cheiro e cores da própria morte. Seus sonhos a muito o perturbava, era o desejo mais profundo pela liberdade e pelo próprio resgate da vida.

Ao caminhar como errante, como muitos personagens das literaturas que lia quando jovem, lembrou um dia de uma caixa de projetos que a tempos tinha montado com amigos e amigos. Os amigos se foram, também tinham ao longo do tempo abandonado os projetos de liberdade.

Quando o homem ao chegar em casa, sem tempo para tomar alguns goles de água para refrescar a garganta seca do duro sol que esquentava sua cabeça. Apressou-se a buscar a velha caixa que guardava em cima de um guarda-roupa, mais ao procurar não encontrou e nervoso por relembrar os sonhos vasculhou toda a casa, desesperado chorou, e chorou.

Ao perceber uma porta entre aberta, lá estava seu filho sentado no chão com muitos e muitos papeis e algumas canetas a mão. O homem desesperado percebeu-se do problema que estava a sua frente. Os sonhos se foram pensava ele, os sonhos se foram! Gritou com o filho pequeno, buscando alguma explicação lógica para que aquela criança esta a destruir projetos e sonhos.

Foi quando depois de gritar perguntas ao filho de 10 anos, o homem foi respondido com calmas palavras.

- Pai, encontrei em seu quarto uma caixa que estava escrita “meus sonhos”, ao olhar dentro dela encontrei papeis com escritos quase apagando-se e desta forma fortaleci os traços dos seus e com os papeizinhos que estavam em branco escrevi outros e outros projetos e sonhos que um dia realizarei.

Mas, afirmou o menino ao seu pai, que seus sonhos ele guardava nos bolsos e não numa caixa escura, suja e abandonada em cima de um guarda-roupa.

O homem ao deixar cair a ultima lagrima, sentia uma forte vontade de sorrir, sorrir como na juventude. Percebeu que os sonhos não tinham morrido como o Cristo na cruz, apenas estavam guardados em uma caixa escura e velha que o pequeno filho teria recém descoberto.

Não acreditem no impossível”! Agradecimentos.

Como nessa pequena historinha do homem que escondeu seus sonhos e projetos num guarda-roupa que só seu filho pequeno encontrou, os libertando para serem vivenciados sem medo. Iniciamos também no começo deste ano de 2010 parte de um projeto carregado de sonhos, sonhos de um dia conseguirmos construir nesse país a verdadeira justiça e igualdade, onde não existam trabalhadores sem teto, sem terra, jovens sem acesso a educação, homens e mulheres sem saúde e a caminhar sem rumo a procura de seus próprios sonhos perdidos.

Demos continuidade a uma longa luta que diariamente está em curso no Brasil e no mundo, a luta desenvolvida por milhões e milhões de militantes pela causa da revolução socialista. Neste ano, além de estarmos envolvidos em diversas lutas com os movimentos sociais pela reforma agrária, em defesa da moradia, das áreas tradicionais e do transporte público, decidimos romper as cercas e assumir uma posição política frente a despolitização vivenciada nas ultimas décadas, principalmente no que refere-se ao processo eleitoral.

Muitos camaradas não compreenderam nossa posição, de desejo militante de colaborar ainda mais no projeto de construção de uma nova sociedade, desejo que nos fez lançarmo-nos, nos doamos e nos expomos abertamente para que de alguma forma as propostas e problemáticas dos movimentos sociais estivessem sendo apresentados mais uma vez ao conjunto da sociedade. Assim como fazemos quando ocupamos universidades, prefeituras, câmara de vereadores, latifúndios para denunciar, reivindicar e propor políticas que construa a consciência coletiva que nos levara a um processo de ruptura com o atual sistema de injustiça, morte e desesperança, por esse motivo entramos no processo eleitoral 2010. Com duas candidaturas articuladas (Ivan Rocha e Willian Conceição) com um projeto maior puxado pelo companheiro Plínio de Arruda Sampaio que consistia em falar sobre o Brasil real e cruel que estávamos vivenciando de norte a sul do país é que aceitamos o desafio.

Entramos e saímos confiantes na luta construída diariamente nas comunidades e nos espaços que transformamos politicamente, não seria justo aqui não expomos a experiência conquistada nesses três meses de campanha. Experiência garantida ouvindo as pessoas, voltando as comunidades onde sempre estivemos militado, nas tentativas de apoios que não vieram, apreendemos que o sonho de um mundo sem desigualdade deve ser construído e que a realidade social que mais uma vez presenciamos é cruel e desoladora.

Tivemos muitas dificuldades em todo esse processo, leia-se financeiras e de disponibilidade de tempo para que tivéssemos na rua, esses entraves nos impediram de alcançarmos melhores resultados, não somente os resultados das urnas, mais o resultado de reunir mais e mais pessoas para juntos pensarmos e publicizarmos aquilo que ajudamos a construir nas lutas diversas que estamos envolvidos. Nosso lema nessa eleição foi “Ocupar todos os espaços para fortalecer a luta popular”, analisando que estamos em um momento critico da própria construção das lutas sociais.

Portanto, a luta continua! Desta forma quero agradecer a todos que disponibilizaram seus votos, que ajudaram a divulgar nossas propostas e sonhos e que foram agentes nesse processo, pra além do votos, nosso resultado significou confiança e desejo da mudança radical para uma nova sociedade. Continuaremos construindo as lutas e fortalecendo o PSOL como alternativa capaz de mobilizar e organizar os lutadores na busca do acumulo de forças para construirmos o Brasil socialista que queremos.


Atenciosamente,

Willian Conceição

PSOL Santa Catarina