30 de junho de 2009

A futilidade do golpe

Escrito por Atílio Boron

Um presidente violentamente seqüestrado a poucas horas da madrugada por militares encapuzados, seguindo ao pé da letra o indicado pelo Manual de Operações da CIA e da Escola das Américas para os esquadrões da morte; uma carta de renúncia apócrifa que se deu a conhecer com o propósito de enganar e desmobilizar a população e que foi de imediato retransmitida a todo o mundo pela CNN sem que antes se confirmasse a veracidade da notícia; a reação do povo que, consciente, sai às ruas para deter os tanques e veículos do Exército à mão limpa e exigir o retorno de Zelaya à presidência; o corte de energia elétrica para impedir o funcionamento das rádios e da televisão e semear confusão e desânimo.

Como na Venezuela, nem bem encarceraram Hugo Chávez os golpistas instalaram um novo presidente: Pedro Francisco Carmona, a quem a inventividade popular batizou de ‘o efêmero’. Quem desempenha seu papel em Honduras é o presidente do Congresso Unicameral deste país, Roberto Micheletti, que jurou neste domingo como mandatário provisório e que somente um milagre o impediria de ter a mesma sorte de seu predecessor venezuelano.

O ocorrido em Honduras põe de manifesto a resistência que provoca nas estruturas tradicionais de poder qualquer tentativa de aprofundar a vida democrática. Bastou que o presidente Zelaya decidisse chamar uma consulta popular – apoiada com as assinaturas de mais de 400 mil cidadãos – sobre uma futura convocatória a uma Assembléia Constitucional para que os distintos dispositivos institucionais do Estado se mobilizassem para impedi-lo, desmentindo desse modo seu suposto caráter democrático: o Congresso ordenou a destituição do presidente e uma decisão da Corte Suprema validou o golpe de Estado. Foi nada menos que esse tribunal que emitiu a ordem de seqüestro e expulsão do país do presidente Zelaya, adotando a conduta sediciosa do decorrer da semana por parte das Forças Armadas.

Zelaya não renunciou e nem solicitou asilo político na Costa Rica. Foi seqüestrado e expatriado, e o povo saiu às ruas para defender seu governo. As declarações que conseguem sair de Honduras são claríssimas nesse sentido, especialmente a do líder mundial da Via Campesina, Rafael Alegria. Os governos da região repudiaram o golpismo e no mesmo sentido se manifestou Barack Obama ao dizer que Zelaya "é o único presidente de Honduras que reconheço e quero deixar bem claro". A OEA se expressou nos mesmos termos e na Argentina a presidente Cristina Kirchner declarou que "vamos impulsionar uma reunião da Unasul, ainda que Honduras não faça parte desse organismo, e vamos exigir à OEA o respeito a institucionalidade e a reposição de Zelaya, além de garantias à sua vida, sua integridade física e de sua família, porque isso é fundamental, por ser um ato de respeito à democracia e a todos os cidadãos".

A brutalidade de toda a operação leva a marca indelével da CIA e da Escola das Américas: desde o seqüestro do presidente, enviado de pijamas a Costa Rica, e o insólito seqüestro e espancamento contra três embaixadores de países amigos: Nicarágua, Cuba e Venezuela, que tinham se dirigido à residência da ministra das relações exteriores de Honduras, Patrícia Rodas, para lhe expressar a solidariedade de seus países, passando pela ostentosa demonstração de força dada pelos militares nas principais cidades do país com o claro propósito de aterrorizar a população. Na última hora da tarde impuseram o toque de recolher e existe uma estrita censura de imprensa, pese que não se conheça declaração alguma da Sociedade Interamericana de Imprensa (sempre tão atenta às situações de alguns meios na Venezuela, Bolívia e Equador) condenando este atentado contra a liberdade de imprensa.

Não é demais recordar que as forças armadas de Honduras foram completamente reestruturadas e ‘reeducadas’ durante os anos 80, quando o embaixador dos EUA em Honduras era nada menos que John Negroponte, cuja carreira ‘diplomática’ o levou a cobrir destinos como Vietnã, Honduras, México, Iraque para, posteriormente, assumir o comando do super-organismo de inteligência chamado Conselho Nacional de Inteligência de seu país. De Tegucigalpa monitorou pessoalmente as operações terroristas realizadas contra o governo Sandinista e promoveu a criação do esquadrão da morte mais conhecido como Batalhão 316, que seqüestrou, torturou e assassinou centenas de pessoas dentro de Honduras enquanto seus informes a Washington negavam que ocorressem violações dos direitos humanos neste país.

Em dado momento, o senador estadunidense John Kerry demonstrou que o Departamento de Estado pagara 800 mil dólares a quatro companhias de aviões de carga pertencentes a grandes narcotraficantes colombianos para que transportassem armas aos grupos que Negroponte organizava e apoiava em Honduras. Os pilotos testemunharam sob juramento, confirmando as declarações de Kerry. A própria imprensa estadunidense informou que Negroponte esteve ligado ao tráfico de armas e drogas entre 1981 e 1985, com o objetivo de armar os esquadrões da morte, mas nada interrompeu sua carreira.

Essas forças armadas são as que depuseram Zelaya. Mas a correlação de forças no plano interno e internacional é tão desfavorável que a derrota dos golpistas é só questão de (muito pouco) tempo.

Atílio Boron é doutor em Ciência Política pela Universidade de Harvard e professor titular de Teoria Política na UBA (Universidade de Buenos Aires). É autor do livro "Império e Imperialismo. Uma leitura crítica de Michael Hardt e Antonio Negri", publicado pela editora CLACSO em 2002.


Website: http://www.atilioboron.com

Trazido por Gabriel Brito, jornalista.


Fonte: http://www.correiocidadania.com.br/content/view/3452/9/

29 de junho de 2009

O contemporâneo mundo do trabalho

Por Willian Luiz da Conceição

Segundo a pós-modernidade, o mundo do trabalho não existe mais, assim como afirmam que após a queda do muro de Berlim e o fim da União das Repúblicas Socialistas e Soviéticas (URSS) chegamos no que denominam “o fim da história”.

Obviamente que classe trabalhadora possui novos traços, especificidades, necessidades e características diferentes daquelas dos séculos passados. Ainda hoje a classe trabalhadora obtém no planeta papel fundamental, compreendendo a grande totalidade dos que vendem a sua mão-de-obra, mulheres, crianças, homens e idosos.

Aos longos de nossas décadas os trabalhadores manuais, fabris, industriais e especializados vem passando por um processo de desarticulação e reducionismo, fortalecido pelas transformações ocorridas nos sistemas Fordista/Toylorista, pela restruturação do capital e flexibilização/desregulamentação do trabalho formal. Isso só reflete o momento complexo em que passa o mundo contemporâneo do trabalho.

Se ainda dentro desta complexidade a classe trabalhadora não é mais a mesma dos séculos passados, seu desaparecimento não é evidenciado. Sendo que a classe trabalhadora consiste hoje a totalidade dos assalariados, homens e mulheres que vivem da venda da sua força de trabalho – classe que vive do trabalho, conforme denominação também utilizada por Ricardo Antunes em Adeus ao trabalho?” e “Os sentidos do trabalho”, de 1995 e 1999, ou seja aqueles despossuídos de qualquer meio de produção.

O proletário clássico, resultado dos modelos Fordista/Toylorista, passa por uma constante diminuição numérica, acelerada pela restruturação do sistema produtivo do capital, cedendo lugar a novas formas de trabalho, principalmente desregulamentados, instáveis e informais. A transformação da linha de produção, sua explanação e flexibilização física, associado ao avanço da máquina informatizada tem contribuído para a diminuição do proletariado industrial, fabril, clássico, estável e especializado.

Com a diminuição do proletariado formal, esse dá lugar aos trabalhadores terceirizados, característica de trabalho baseado ainda mais no subemprego, na sub-exploração e flexibilização dos direitos trabalhistas conquistados historicamente pelos trabalhadores dentro e fora do Brasil. Esse trabalho antes garantido pela mão-de-obra dos imigrantes, principalmente nos países centrais como Alemanha, com os gastarbeiters, hoje arrastam trabalhadores(as) industriais formais clássicos para o mundo do trabalho terceirizado, temporário, ainda mais precarizado, ou para setores de serviço, já consolidados principalmente na Europa e que avança em países de periferia, como o Brasil. Lembrando que o Brasil, principalmente no final da década de 70, passa por um grandioso crescimento na formação do proletariado industrial e fabril, diferente do momento atual agravado pela crise no sistema de reprodução de capital que passamos e pela falta de política do Governo Lula, que lança diariamente milhares de trabalhadores(as) também no desemprego.

Outra característica que podemos perceber na transformação no mundo do trabalho e o significativo aumento da força de trabalho feminina, principalmente na ultima década, obtendo dados astronômicos em países de economia central, ultrapassando 50% da mão-de-obra explorada. Nos países de periferia, como o Brasil, não é diferente. Ainda assim, a temática salarial e a remuneração média das mulheres é inferior a dos homens, assim como os direitos sociais e trabalhistas na prática. Os estudos sobre divisão sexual do trabalho apontam que as atividades de capital intensivo são realizadas predominantemente pelos homens, ao passo que aqueles de maior trabalho intensivo, frequentemente com menores níveis de qualificação, são preferencialmente destinadas às mulheres, também a trabalhadores(as) negros(as), indígenas, como afirma também Helena Hirata em seus escritos intitulados “Nova divisão sexual do Trabalho?”.

Temos ainda um forte crescimento no setor de serviços, aqueles(as) trabalhadores(as) que se desempregam do mundo fabril e industrial, passam a muitas vezes para essa categoria de trabalho. É fundamental pensarmos que passamos por um processo de mutação organizacional, tecnológica e de gestão, sendo que esta também afeta o mundo do trabalho nos serviços, cada vez mais se submetendo à falta de racionalidade do capital e à lógica do mercado, buscando a liberação total do mesmo, assim como diminuição do Estado a partir principalmente das privatizações e sucateamento dos serviços públicos. Essa política, intitulada de neoliberalismo, nascente no inicio da década de 90, e que fracassa na crise desencadeada em fins de 2008.

Outra influência da transformação no mundo do trabalho é a exclusão dos jovens e idosos do mercado de trabalho, que, cada vez mais sem perspectiva de emprego, acabam sendo jogados nas fileiras dos trabalhos precários ou do desemprego. Sem perspectivas de trabalho, dada a consolidação do desemprego estrutural agravado pela crise e por falta de políticas de estatização de empresas, sistemas financeiros falidos e também de combate à flexibilização dos direitos trabalhistas. Podemos também perceber o aumento substancial de mão-de-obra infantil no mercado de trabalho, de forma precoce e criminosa, principalmente como característica da estrutura agrária brasileira baseada no latifúndio e no agronegócio.

Outra tendência que cresce, resultado de tais mudanças, é o chamado “Terceiro Setor”, que busca assumir uma alternativa de trabalho, através de empresas de imagem mais comunitária, com base em trabalho voluntário, envolvendo um amplo setor de atividades, nas quais predominam o caráter assistencial, “sem fins” lucrativos e que se desenvolvem relativamente à margem do mercado. O avanço deste segmento é um desdobramento da retração do mercado de trabalho industrial e de serviços, do aumento do desemprego. Está forma de atividade, é movida principalmente pelas Organizações Não Governamentais (ONGs). Essa alternativa é extremamente limitada para compensar o desemprego estrutural, não se constituindo numa alternativa efetiva e sólida ao mercado de trabalho capitalista. O “Terceiro Setor” acaba exercendo um papel de contribuindo (um papel de contribuindo?) com o mercado, uma vez que incorpora trabalhadores desempregados pelo capital. Se esse segmento atua à margem da lógica do mercado é um problema, pois busca salvar o sistema e tampa os furos do Estado e das políticas neoliberais no serviços sociais.

A descaracterização do trabalho clássico, assim como do proletariado industrial, é parte destas mudanças no sistema de produção e fruto dela. Não se trata da morte do trabalho, mas é fato que o proletariado muda seu biótipo a cada avanço do trabalho informal, assim como vem ocorrendo com a expansão do emprego à domicílio e o trabalho na louca expansão da teleinformática, cada vez mais mundializada e avançada com a transnacionalização do trabalho, confundindo e utilizando diferentemente os trabalhos locais, regionais, nacionais e internacionais de forma a distanciar as várias etapas de sua produção, contribuindo que o novo proletário tenha muitas faces e características nesse imenso mundo do trabalho. Isso beneficia a hegemonia cultural burguesa (individualista, mesquinha e insana) sob a sociedade, facilitando que os trabalhadores passem por um processo de aburguesamento.

Também para Ricardo Antunes, sociólogo do trabalho, “é este, portanto, o desenho compósito, diverso e heterogêneo que caracteriza a nova conformação da classe trabalhadora, a classe-que-vive-do-trabalho: além das clivagens entre os trabalhadores estáveis e precários, homens e mulheres, jovens e idosos, nacionais e imigrantes, brancos e negros, qualificados e desqualificados, “incluídos e excluídos” etc., temos também as estratificações e fragmentações que se acentuam em função do processo crescente de internacionalização do capital”.

Hoje entender o proletariado é buscar compreender um ambiente muito mais amplo, incluindo neste grupo não mais só os trabalhadores manuais, industriais e clássicos, mas sim incluir toda essa força humana, homens, mulheres, idosos, negros, índios e crianças, assim como os trabalhadores rurais, tendo em vista a expansão do capital no campo. Pensar no proletariado contemporâneo é abrigar a totalidade dos que vendem sua força de trabalho, não possuem meios de produção. Cabe o desafio aos diversos grupos que pensam o mundo do trabalho – sejam aqueles que buscam a superação da lógica desumana de reprodução do capital e até mesmo os que legitimam, justificam e sobrevivem desta lógica de exploração – entender o proletariado como uma classe muito mais ampla, fragmentada e heterogênea. Esse desafio se compreende ainda maior em tempos de crise, pois é nesse momento que as contradições estão mais aparente, mas não menos complexas. E como diz o velho e sábio Marx, “o Capital senhor ao mesmo tempo elegante e bárbaro, arrasta consigo para a cova os cadáveres dos seus escravos, numa verdadeira hecatombe de operários que naufragam nas crises”.

Willian Luiz da Conceição é estudante de História da Universidade da Região de Joinville – UNIVILLE, militante e presidente do PSOL Joinville.

28 de Junho de 2009


Solidariedade contra o golpe militar na Honduras

O PSOL - Partido Socialismo e Liberdade - repudia e rechaça o golpe de Estado e o seqüestro do presidente Manuel Zelaya, perpetrado pelo exército desse país a serviço dos interesses da direita hondurenha, das transnacionais e dos interesses imperialistas.

A detenção do presidente Zelaya se produziu um pouco antes que se abrisse a votação da consulta popular chamada para referendar uma reforma constitucional. Como ocorreu no caso do Equador, Venezuela e Bolívia, tal reforma era rejeitada pelos interesses da direita.

Zelaya foi encarcerado após um grupo de militares metralhar, nesta madrugada, sua casa. A seguir, foi levado em um avião à Costa Rica.

O golpe contra o governo democrático e o processo constituinte que se abria em Honduras é também um ataque contra todo o processo bolivariano que se desenvolve em nosso continente e, particularmente, contra a integração latino-americana que se está realizando em torno da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (ALBA) da qual Honduras faz parte.

O PSOL exige que o governo brasileiro não reconheça o governo golpista e apóie o governo de Zelaya. Conclamamos todas as forças populares e democráticas de nosso país a repudiar os últimos acontecimentos em Honduras.

O golpe militar hondurenho não pode passar!

Solidariedade internacional para detê-lo!

Secretaria de Relações Internacionais do PSOL


Honduras vive situação incerta; presidente é retirado do país

Bogotá, 28 jun (EFE).- O presidente de Honduras, Manuel Zelaya, foi detido hoje por militares e levado para a Costa Rica, enquanto integrantes de seu Governo pediram para que a comunidade internacional e o povo hondurenho "defendam a democracia".

A situação em Honduras é incerta. Até agora, os responsáveis por estes eventos, já chamados de "golpe" pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, não falaram publicamente e não se sabe se controlam totalmente a situação.

O próprio Zelaya confirmou, assim como o Governo costarriquenho, que está na Costa Rica e sustentou ter sido vítima de um "sequestro brutal" por parte de um "grupo de militares" de seu país.

"Estou aqui em San José como presidente de Honduras. Vou a Manágua (Nicarágua) como presidente de Honduras. Vou exigir os direitos do povo hondurenho. Meu mandato termina em 2010", ressaltou Zelaya em declarações ao canal de televisão "Telesur", após esclarecer que não pediu asilo na Costa Rica.

O presidente hondurenho pediu aos soldados de seu país para "que não permitam" a concretização deste "ultraje, deste monstro" em Honduras, e solicitou ao povo para que "proteste sem violência".

Zelaya exigiu, além disso, que a embaixada dos Estados Unidos "esclareça que não está por trás" de sua saída forçada do poder.

Carros blindados e tanques tomaram hoje as ruas de Tegucigalpa, enquanto aviões militares sobrevoam a cidade horas depois de o presidente Zelaya ter sido detido pelas Forças Armadas.

O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, convocou uma reunião urgente do Conselho Permanente do organismo para analisar a crise em Honduras e pediu que a comunidade internacional se una contra esta "grave alteração do processo democrático do continente".

O presidente americano, Barack Obama, pediu "respeito às normas democráticas" e a resolução das disputas através de um "diálogo livre de interferência externa".

Em declarações ao canal "Telesur", com sede em Caracas, a ministra das Relações Exteriores de Honduras, Patricia Rodas, disse estar "sitiada" e reivindicou o apoio da comunidade internacional, além de convocar o povo hondurenho a se concentrar em frente à casa presidencial em Tegucigalpa.

Segundo Rodas, os cidadãos estão se mobilizando, mas os militares "não os deixam circular".

A chanceler relatou que "estão cortando a luz e também o telefone" e advertiu que o Congresso hondurenho pensa em se reunir hoje, em encontro que, segundo versões e fontes extra-oficiais, seria para jurar o presidente do Congresso, Roberto Micheletti, como novo chefe de Estado.

Estava prevista para hoje uma consulta popular organizada por Zelaya com vistas a iniciar um processo de mudança constitucional. Ela foi declarada ilegal pelo Parlamento e pela Corte Suprema, além de ter sido rejeitada pela cúpula militar.

No entanto, no começo da manhã, o secretário particular de Zelaya, Eduardo Enrique Reina, disse à imprensa local que a Guarda de Honra o informou que "o presidente foi deportado pelos militares".

Horas depois, a ministra de Segurança costarriquenha, Giannina Del Vecchio, confirmou que Zelaya estava em perfeito estado de saúde e na qualidade de "hóspede" em San José, com a aprovação do presidente do país, Oscar Arias.

Antes de Obama se pronunciar, a ministra Rodas lamentou não saber "qual é a reação do Governo dos Estados Unidos. O embaixador dos EUA não nos responde".

Para a chanceler, os responsáveis pelos fatos são "o grupo econômico que domina a imprensa, o presidente do Congresso" e grupos que pretendem "vencer a vontade" do povo.

O presidente da Assembleia Geral da ONU, o nicaraguense Miguel D'Escoto, condenou "os eventos que ocorrem atualmente em Honduras, os quais representam uma quebra da legalidade constituinte e democrática", disse à Agência Efe seu porta-voz, Enrique Yeves.

D'Escoto pediu o retorno imediato de Zelaya. "A única solução é que o presidente constitucional e democraticamente eleito volte a seu cargo para exercer as funções atribuídas pela soberania popular", disse.

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, repudiou em uma entrevista à "Telesur" o que chamou de "golpe de Estado troglodita" contra seu colega de Honduras e opinou que "o império (EUA) tem muito a ver" com o que acontece em Honduras.

Chávez pediu para que os militares hondurenhos não propiciem um "genocídio" por seguir ordens "da burguesia, dos ricos".

O povo "está saindo às ruas em defesa da democracia, mas está desarmado", disse o presidente venezuelano.

Chávez assegurou que os países membros da Aliança Bolivariana para as Américas (Alba), à qual pertence Honduras, farão tudo o que estiver em suas mãos "para restituir" o Governo constitucional do país centro-americano.

No último dia 26, o Conselho Permanente da OEA aprovou uma resolução que pede o envio de uma comissão especial a Honduras para analisar a situação no terreno, com o objetivo de "contribuir para um diálogo nacional amplo, a fim de encontrar soluções democráticas" à crise. EFE

fonte: http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL1210697-5602,00-HONDURAS+VIVE+SITUACAO+INCERTA+PRESIDENTE+E+RETIRADO+DO+PAIS.html



26 de junho de 2009

Falar em golpe é mistificação

Carlos Nelson Coutinho - Ago 2005

Muitos analistas têm falado de uma crise institucional brasileira. Em sua opinião, existe realmente uma crise institucional? Qual a natureza dela, seu significado e extensão?

Acho que seria forte falar de crise institucional. O que estamos vivendo, ao contrário, parece-me ser apenas um novo capítulo de uma crise mais geral, que envolve a própria essência da atividade política. Gramsci dizia que existe a “grande política”, aquela que põe em questão as estruturas de uma sociedade, e a “pequena política”, que se limita a administrar o existente. Todo o esforço teórico e prático do neoliberalismo tem se voltado no sentido de desqualificar a “grande política” (que seria “ideológica”, “utópica”, “universalista”, etc.) e reduzir a atividade política ao que Gramsci chamava de “pequena política”. Faz parte desta redução o esforço para subtrair ao debate público as opções de política econômica, aquelas que envolvem um questionamento dos próprios lineamentos da ordem social. Ora, tanto a atual crise como as soluções apontadas para ela fazem parte do universo da “pequena política”. Não me parece casual que a grande preocupação, tanto da oposição tucano-pefelista quanto do governo, seja “blindar” a economia, ou seja, impedir que questões de “grande política” voltem a ocupar a agenda. Algumas das chamadas “reformas políticas”, defendidas por uns e outros, são interessantes; mas, em seu conjunto, não transcendem a esfera da pequena política.
A denúncia da existência do “mensalão” vem erodindo a base de apoio parlamentar do governo. Diante desse quadro, o governo busca uma recomposição política com nova aproximação com partidos conservadores, como o PMDB e o PP.

O senhor teme uma guinada mais à direita do governo, em nome da chamada governabilidade?

Essa guinada é o que parece resultar da última reforma ministerial. Vejo o governo envolvido numa tática defensiva meio esquizofrênica: por um lado, Lula faz um discurso demagógico (“vão ter que me engolir”, etc.), voltado para os setores mais desorganizados da população; por outro, dá uma clara guinada à direita, cujo exemplo mais emblemático talvez seja a substituição, no Ministério das Cidades, de Olivio Dutra por um nome indicado por Severino Cavalcanti. A Carta Aberta ao Povo Brasileiro, assinada por 42 entidades e movimentos sociais, há cerca de um mês, afirma que é preciso defender o governo Lula diante da ofensiva da oposição da direita, mas exige mudanças na condução neoliberal da economia. Isso até agora não aconteceu.

Caso a crise se aprofunde, é possível que o governo decida reconstruir sua maioria política e social a partir dessas propostas?

Não vejo nenhuma possibilidade disso ocorrer. O governo Lula empreendeu um caminho de onde não há mais retorno. A Carta Aberta a que você se refere, embora sugira mudanças na política econômica, serviu objetivamente, quando fala em “conspiração das elites”, para reforçar o governo e, conseqüentemente, para possibilitar que ele conserve o que tem sido o cerne de sua atuação, ou seja, a política econômica. E justiça se lhe faça: malgrado toda a demagogia “populista” de Lula, em nenhum momento houve a mais leve manifestação de que a política econômica poderia ser mudada. Ao contrário: tanto ele quanto Palocci têm deixado bem claro, com o objetivo de “acalmar o mercado” (leia-se: as várias frações do grande capital), que esta política não vai mudar. Até mesmo a tímida proposta de Delfim Neto no sentido de controlar o capital especulativo foi rechaçada com ênfase: por incrível que pareça, este governo está à direita de Delfim. A Carta Aberta é mais um sintoma de que um importante e expressivo setor do movimento social corre o sério risco de ser definitivamente cooptado pelo bloco no poder. Estamos assistindo à maior operação transformista já ocorrida na história de nosso país. Faz parte dela, entre muitas outras coisas, a nomeação do presidente da CUT para o Ministério do Trabalho.

Alguns analistas têm afirmado que há um golpe em marcha, articulado pelas "elites" para impedir a reeleição de Lula. Qual a sua opinião sobre a tese de um golpe em curso?
É evidente que esta idéia de um golpe contra Lula desferido pelas elites é mera mistificação. Se entendemos por elites as várias frações do grande capital (sobretudo a financeira e aquela ligada ao chamado agrobusiness), veremos que elas não tem nenhuma razão para “golpear” o atual governo, que tem conservado – e até radicalizado – uma política claramente posta a serviço de tais frações. Até mesmo o capital industrial, que tem alguns interesses contrariados por essa política, correu recentemente ao Palácio do Planalto para hipotecar solidariedade ao governo em seu esforço para “blindar” a economia. E não se deve esquecer que o governo Lula apresenta uma vantagem suplementar para tais elites: a de evitar que o antigo bloco contrário ao neoliberalismo (formado pelo velho PT, pelos demais partidos de esquerda e pelos principais movimentos sociais) continue opondo resistência ao neoliberalismo. Se o governo estivesse nas mãos da coligação PSDB-PFL, certamente haveria, como houve no passado, uma maior e mais sólida resistência ao contra-reformismo neoliberal. Um governo liderado pelo PT — e que, além do mais, cooptou a liderança da CUT e a de outros movimentos sociais — pode ter mais êxito do que um governo tucano na aprovação, entre outras contra-reformas, da chamada “reforma trabalhista”, cujo objetivo principal é desconstruir os poucos direitos sociais conquistados pelos trabalhadores brasileiros. De resto, para desmistificar o cenário de um “golpe das elites”, basta lembrar, como o fez ironicamente Luiz FernandoVeríssimo, que há nele uma “pequena” lacuna: é verdade que temos as elites, mas falta precisamente o governo de esquerda...

O sociólogo Chico de Oliveira afirma que sindicalistas oriundos do PT e técnicos e banqueiros ligados ao PSDB formam uma nova classe que se beneficia do controle dos vultosos recursos dos fundos de pensão e também do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). O sr. concorda?

Aprendi muito, como sempre faço quando leio Chico, com o ensaio dele a que você se refere, O ornitorrinco. Mas não creio que se possa dizer que os gestores dos fundos de pensão formam uma nova classe social, como ele sugere. A meu ver, trata-se de uma camada ligada diretamente ao capital financeiro; forçando um pouco o conceito de Gramsci, diria que os gestores petistas destes fundos de pensão, bem como os neobanqueiros tucanos, são “intelectuais orgânicos” do capital financeiro. Mas o que me parece muito importante no artigo de Chico é que ele tenta mostrar que o transformismo que envolveu sindicalistas outrora combativos e intelectuais que se diziam de esquerda, tornando-os serviçais do capital financeiro, não é apenas um fenômeno psicológico de “traição”, mas algo que tem raízes nas novas formas que vêm assumindo as relações sociais capitalistas. A análise de Chico segue a mesma linha metodológica que levou Lenin a buscar no surgimento de uma “aristocracia operária” as raízes sociais do transformismo que envolveu a socialdemocracia do início do século XX.

Quais os motivos da atual crise do PT? O PT foi engolido pela institucionalidade e seus vícios?

Antes de mais nada, é preciso insistir no seguinte: a adoção do neoliberalismo como política governamental e a montagem de uma vasta rede de corrupção, envolvendo simultaneamente o governo e o PT, são fatos estreitamente relacionados. E nenhum deles eclodiu como um raio em dia de céu azul, mas vêm sendo preparados por uma prática que se insinua no partido já há muito tempo, pelo menos desde a eleição de 1994. Com efeito, se examinarmos a evolução ideológica do PT, veremos que a velha proposta socialista e democrática, defendida (ainda que nem sempre de modo muito claro) desde a origem do partido, foi sendo progressivamente abandonada, substituída pela prioridade dada à conquista do governo a qualquer custo. É verdade que esta prática eleitoralista e o conseqüente abandono do socialismo demoraram a aparecer explicitamente no nível do discurso. O chamado “campo majoritário”, que dominava e domina a direção do PT, continuou a tolerar que os documentos congressuais falassem de socialismo, de luta por uma nova hegemonia, etc., embora sua prática já não mais correspondesse a este discurso. A hipocrisia foi tanta que, ainda no encontro nacional de 2001, ocorrido em Recife, continuou-se a falar de socialismo e a reafirmar a necessidade de uma política alternativa ao neoliberalismo. Menos de um ano depois vinha a “Carta ao povo brasileiro”, na qual o candidato Lula prometia respeitar como presidente todos os “contratos”; e, após a sua posse, veio a entrega do Banco Central a um “intelectual orgânico” do capital financeiro.

E como isso se refletiu na própria estrutura do partido?

Ao mesmo tempo em que tinha lugar o abandono do socialismo, crescia cada vez mais a burocratização do partido, ou seja, o preenchimento dos cargos de direção por funcionários remunerados, sem nenhuma responsabilidade em face da militância e dos movimentos sociais. Ora, a lógica da burocracia é sua auto-reprodução. Com as vitórias eleitorais do PT, culminando na conquista da Presidência da República, esta lógica se expandiu também para os governos petistas: conservar o poder pelo poder passou a ser a única meta desta burocracia que empalmou o Partido. Isso explica as alianças espúrias que o PT passou a fazer com todo mundo, sobretudo com as forças do capital, em particular do capital financeiro. O abandono do socialismo como proposta estratégica e a burocratização da direção partidária estão assim na gênese da rede de corrupção que hoje envolve o PT e o governo: e não se trata de uma corrupção que vise apenas ao enriquecimento pessoal (embora isso também ocorra), mas de uma poderosa rede que tem por objetivo principal a conservação do poder governamental por esse aparelho burocrático.

A corrupção virou prática corriqueira de administração porque é da natureza do sistema capitalista, como dizem alguns?
Fenômenos de corrupção são certamente inerentes ao capitalismo, e não só em função da lógica econômica competitiva que lhe é própria, mas também da ideologia que busca legitimá-la como a forma de sociabilidade adequada à “natureza humana”, uma ideologia que se baseia na defesa do individualismo, do privatismo, na criação de um senso comum que recomenda “levar vantagem em tudo”. Um pensador liberal tão significativo como o francês Benjamin Constant dizia, no início do século XIX, que a liberdade dos modernos se distingue daquela dos antigos porque, enquanto esta última é a liberdade de participar na formação do governo, a liberdade dos modernos é a de fruir na esfera privada as riquezas que obtemos graças a nossos supostos méritos. Trata-se, pensa Constant, de uma liberdade meramente privada, centrada no egoísmo individual e não na solidariedade. Ora, o neoliberalismo radicaliza o velho liberalismo no sentido de reforçar este individualismo e este privatismo.

Se a norma que deve orientar minha ação é levar vantagem em tudo, por que não fazê-lo também através da corrupção?

Você é um dos maiores representantes do pensamento gramsciano no Brasil. A edição que você fez dos Cadernos do Cárcere e de outros escritos do revolucionário italiano é, sem dúvida, um marco.

O que, em sua opinião, as categorias gramscianas podem ajudar a compreender a atual crise brasileira?

Já me vali de várias categorias gramscianas nesta entrevista: grande e pequena política, transformismo, intelectual orgânico, etc. Poderia ainda falar de outras, como revolução passiva, entendida como acordo de elites para impedir a participação dos de baixo. Não sei se as categorias de Gramsci são suficientes para entender a atual crise, mas são certamente necessárias. E são necessárias também para entender o Brasil e o mundo de hoje.

E a esquerda não petista em geral, organizada ou não em partidos, também será afetada pela crise? De que forma?

O PT e o governo Lula talvez tenham feito mais mal à esquerda brasileira do que a ditadura militar: esta matou, torturou e reprimiu a esquerda, mas não a desmoralizou. A nossa principal tarefa hoje é precisamente evitar que esta desmoralização seja levada a cabo. Temos de mostrar que, assim como o fim do chamado “socialismo real” não foi o fim do socialismo enquanto tal, a derrocada do PT e do seu governo não significam o colapso definitivo da esquerda brasileira. Essa derrocada não se deu porque o governo e o PT são de esquerda, mas precisamente porque abandonaram a esquerda.
Você vem falando em bipartidarismo no Brasil. Explique melhor. O grande objetivo atual das forças do capital, no Brasil e no mundo, é consagrar a pequena política e a pseudo-ética do privatismo desenfreado como elementos fundamentais de um senso comum que sirva de base para a hegemonia neoliberal. No Brasil, esse objetivo se tornaria real caso nosso país, seguindo os padrões americanos, reduzisse a luta política a uma disputa entre duas elites que aceitam sem contestação o status quo. Teríamos então um bipartidarismo real, ainda que não formal, centrado na alternância de poder entre um bloco liderado pelo PT e outro pelo PSDB, que não só continuariam aplicando a mesma política econômica e social, mas também praticando os mesmos métodos de governo, centrados em formas mais ou menos graves de corrupção sistêmica. O risco não é a mexicanização do sistema político brasileiro, como muitos afirmam, mas seu “americanalhamento”, se me permitem o trocadilho.

Quais seriam as alternativas e por que você foi para o P-SOL?

Ora, para evitar este risco do qual falei temos à nossa disposição apenas uma alternativa: criar uma nova força política que, em estreita aliança com os movimentos sociais não cooptados, seja capaz de romper com este bipolarismo próprio da “pequena política” e de recolocar na agenda a questão do socialismo, da transformação da ordem social, ou seja, capaz de redespertar as classes subalternas para a necessidade de fazer grande política. Esta nova força política tem hoje um pólo de referência, ainda que não o único, no Partido Socialismo e Liberdade, no P-SOL. O P-SOL deve se empenhar para preencher o vazio deixado pelo PT, retomando não só as bandeiras que marcaram boa parte da vida deste partido hoje moribundo, mas também o que de melhor nos legou a velha esquerda brasileira. Cabe ao P-SOL transformar-se no eixo articulador de uma ampla frente de esquerda, que compreenda não só outros partidos, mas também movimentos sociais velhos e novos. Não se trata de uma tarefa fácil, mas vale a pena tentar. E, para concluir citando Gramsci novamente, diria que hoje, mais do que nunca, devemos saber combinar o pessimismo da inteligência com o otimismo da vontade.


Fonte: Jornal da UFRJ, ago. 2005. http://www.acessa.com/gramsci/?id=404&page=visualizar


25 de junho de 2009

Mais criminalização dos índios: 31 xukuru condenados a penas de até 10 anos

Conclame o Tribunal Regional Federal a reverter essa decisão

Povo Xukuru: luta, agressões e resistência

As cerca de 10 mil crianças, homens, mulheres e idosos do povo Xukuru vivem em sua terra tradicional, na serra do Ororubá, município de Pesqueira, agreste de Pernambuco.

Há décadas, os Xukuru lutam para garantir o respeito a seus direitos constitucionais. Nesse período, diversas lideranças foram assassinadas em virtude da luta pela terra. Destaca-se o assassinato do cacique Chicão Xukuru, ocorrido em 20 de maio de 1998, cujo mandante foi encontrado morto na carceragem da Superintendência Regional da Polícia Federal em Pernambuco.

Marcos Luidson de Araújo, filho de Chicão, foi escolhido pelos Encantados do Povo como novo cacique em 2000. A partir daí passou a receber ameaças de morte nunca investigadas pelas autoridades policiais. Diante dessa omissão, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) determinou que o Estado Brasileiro protegesse a vida do cacique Marcos e de sua mãe, Zenilda - o que nunca foi cumprido.

Em 7 de fevereiro de 2003, o cacique Marcos sofreu uma tentativa de homicídio dentro da terra Xukuru. No episódio, os autores do atentado mataram dois jovens, Josenilson José dos Santos (Nilsinho) e José Ademilson Barbosa da Silva (Milson), que tentaram impedir o assassinato do cacique, mesmo estando desarmados.

A comunidade indígena, sob forte comoção e indignada com mais esta violência, terminou por expulsar do seu território todos os que apoiavam os criminosos: fazendeiros que permaneciam ilegalmente na terra Xukuru e alguns indígenas aliciados pelos invasores para tentar dividir o território da etnia.

A tentativa de divisão da terra Xukuru foi comunicada a diversos órgãos públicos, especialmente ao Ministério Público Federal em Pernambuco e à Polícia Federal, sem que nenhuma medida fosse tomada para tentar pacificar o conflito.

Julgamento do atentado contra o cacique Marcos

No dia seguinte ao atentado, a Polícia Federal (PF) já se esforçava em identificar a participação do cacique e de outras lideranças na destruição material realizada pela multidão e na expulsão dos envolvidos com o atentado. Assim, a PF concluiu que não houve atentado e que o cacique Marcos provocou os incidentes que o vitimaram.

O Ministério Público Federal em Pernambuco (MPF-PE) acatou as conclusões do inquérito policial e denunciou apenas uma pessoa, José Lourival Frazão (Louro Frazão), pelo duplo homicídio. Os demais participantes da agressão não foram denunciados, por que o MPF-PE entendeu que eles agiram em defesa de Frazão. Porém, a perícia comprovou que as vítimas estavam desarmadas. Louro Frazão, autor dos disparos fatais, foi condenado a 12 anos e seis meses de reclusão apenas por um dos homicídios.

Condenação do cacique e das lideranças do povo Xukuru

Outro inquérito da PF apurou os incidentes que resultaram na expulsão das famílias dos criminosos e dos seus aliados. Foram indiciadas 35 lideranças Xukuru, dentre elas o cacique Marcos, acusado de ter comandado os atos que ocorreram após o atentado.

Contudo, depois do atentado o cacique foi sedado num hospital e permaneceu dormindo na casa de sua mãe até a manhã do dia seguinte, como atestaram diversos representantes de entidades de Direitos Humanos que estiveram no local.

Indiferente a tais fatos, o MPF-PE, acatou as conclusões da PF e denunciou o cacique Marcos e outras 34 lideranças Xukuru pela prática de diversos crimes.

O cacique Marcos e 30 lideranças denunciadas foram condenados pela 16ª. Vara da Justiça Federal em Caruaru (PE) a penas que variam de 1 a 10 anos de reclusão, além do pagamento de indenizações que somam mais de R$ 100 mil.

A sentença que condenou o cacique Marcos a 10 anos e quatro meses de reclusão desconsiderou que ele foi vítima e não agressor nesse caso. Também desconsiderou que Marcos estava sedado durante o episódio das expulsões e que a comunidade indígena agiu sob forte comoção diante das mortes dos dois jovens e do atentado contra o cacique. Esta sentença foi proferida antes de terem sido ouvidas importantes testemunhas da defesa, como o Deputado Federal Fernando Ferro (PT/PE) e a Subprocuradora Geral da República, Raquel Dodge, que estiveram na terra indígena um dia depois do ocorrido. Isso constitui cerceamento do direito de defesa.

A Justiça Federal condenou até mesmo o indígena Wilton Lopes da Silva, que sequer estava na terra indígena no momento da expulsão dos invasores, como provaram suas testemunhas. Ele foi condenado a 9 anos e 4 meses de reclusão.

Por outro lado, o não-indígena preso no mesmo episódio como autor dos disparos que feriram quatro indígenas – inclusive um menor de idade - sequer foi processado. Ninguém foi responsabilizado por essas tentativas de assassinato.

Essas condenações se inserem no contexto de criminalização das lutas do povo Xukuru. Atualmente, pelo menos 43 Xukuru estão sendo processados; dois estão presos; 31 foram condenados e os outros dez aguardam julgamento. Esse processo de criminalização foi denunciado em março de 2009 à OEA.

Justiça para os Xukuru

Todos que acompanham a caminhada deste povo por seus direitos sabem que - em nome de interesses escusos - as elites políticas e econômicas da região têm tentado, por diversas maneiras, desmoralizar, desestruturar e desmobilizar os Xukuru, impedindo-os de concretizarem seu projeto de vida.

Trata-se de uma violência inominável contra um povo que, com o auxílio de inúmeros parceiros, tem dado exemplos comoventes de coragem e determinação.

É fundamental que a sociedade civil, sempre solidária com a causa indígena, manifeste sua indignação contra essas decisões judiciais para sensibilizar os desembargadores que podem reverter essas condenações.

Solicitamos a todos que enviem a mensagem abaixo para o TRF 5ª Região:

Excelentíssimo(a) Sr(a). Desembargador(a),

Tomamos conhecimento de que o cacique Marcos Luidson de Araújo e outros trinta indígenas Xukuru foram condenados em virtude dos incidentes do dia 7 de fevereiro de 2003, ocorridos na Vila de Cimbres, dentro da terra Xukuru, no município de Pesqueira, o que nos deixou bastante preocupados.

O povo Xukuru e suas lideranças, como o cacique Marcos e seu pai, o cacique Chicão Xukuru, são reconhecidos nacional e internacionalmente pela luta incansável pela recuperação de seu território tradicional e pelo respeito à organização social dos povos indígenas. Ambos sempre atuaram em defesa dos direitos humanos e do reconhecimento de um Estado pluriétnico e multicultural, motivo pelo qual o cacique Chicão foi assassinado em 1998.

A análise do processo que resultou nas 31 condenações evidencia haver irregularidades, uma vez que importantes fatos relativos a provas não teriam sido analisados em si mesmos e nem dentro do contexto específico em que se inserem, ou seja, o projeto de fortalecimento do povo Xukuru.

No processo, não ficou evidenciado, e devidamente sopesado, que foi o assassinato de dois jovens indígenas e a tentativa de assassinato do cacique Marcos, na manhã daquele dia, que geraram a reação da comunidade Xukuru como um todo.

Quase todas as testemunhas de acusação são consideradas inimigas do projeto de fortalecimento do povo Xukuru. Além disso, provas importantes que poderiam conduzir a outro tipo de decisão não teriam sido devidamente analisadas.

Confiando no Poder Judiciário Brasileiro, esperamos que seja feita JUSTIÇA!

Atenciosamente,

(Nome ou Entidade)

Endereços para enviar mensagens:

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª. REGIÃO

Presidente:

Des. Federal Luiz Alberto Gurgel de Faria ( presidencia@trf5.jus.brEste endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email Fax: (81) 3425-9095)

Vice-Presidente:

Des. Federal Marcelo Navarro Ribeiro Dantas ( navarro@trf5.jus.brEste endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email Fax: (81) 3425-9499)

Corregedor:

Des.Federal Manoel de Oliveira Erhardt ( teneuman@tref5.gov.brEste endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email )

1ª. Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª. Região

Des. Federal Francisco de Queiroz Bezerra Cavalcanti ( cavalcanti@trf5.gov.brEste endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email )

Des. Federal José Maria de Oliveira Lucena ( mario@trf5.gov.brEste endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email )

Des. Federal Rogério de Meneses Fialho Moreira ( eso@trf5.jus.brEste endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email )


Fonte: http://www.correiocidadania.com.br/content/view/3425/9/


Antonio Candido: USP trouxe revolução cultural e social

Escrito pela Redação

Na exposição feita no Ato de Protesto contra a invasão policial no campus da USP, o crítico literário e professor emérito da USP Antonio Candido fez várias referências aos primeiros tempos da universidade.

A imprensa noticiou com grande destaque a presença de Antonio Candido no Ato, até mesmo os órgãos que se posicionaram favoravelmente à presença da polícia no campus. Este mesmo noticiário não deu, no entanto, a essa parte da sua fala o destaque que ela merece.

Considerando a relevância das referências desse grande intelectual aos primeiros tempos da USP para a retomada do sentido maior de uma universidade pública, o Correio da Cidadania obteve de Antonio Candido um depoimento exclusivo, que os leitores podem acompanhar a seguir.


‘Fui ao ato com uma finalidade precisa: associar-me aos protestos contra a invasão, mesmo porque, quanto ao restante, não concordo com algumas palavras de ordem do movimento grevista.

Falei de improviso, informando que o fazia como diplomado de uma das primeiras turmas da Faculdade de Filosofia (a 6ª, para ser exato), com o propósito de lembrar aos estudantes alguns traços que me parecem importantes na história da instituição, a fim de combater certo pessimismo injustificável com relação a ela, em particular, e à USP, em geral. O objetivo foi dar subsídios para o que a meu ver é o mais importante e virá depois do movimento grevista, isto é, a reflexão e a ação destinadas a solucionar os seus graves problemas.

Neste sentido, mencionei dois fatos que me parecem positivos na sua tradição. Primeiro, que na USP começaram, em nosso país, a pesquisa e o ensino em nível superior das disciplinas denominadas humanas, coisa que não havia antes: filosofia, sociologia, história, estudos literários etc. Foi uma verdadeira revolução cultural, que entre muitas outras coisas abriu para as mulheres as portas da formação universitária, graças sobretudo à Faculdade de Filosofia. Pensando no papel crescente da mulher em todos os setores da vida social, é fácil avaliar a importância desse fato.

Em segundo lugar, mencionei que o ensino das disciplinas humanas em nível universitário ampliou sensivelmente o campo dos estudos sobre a sociedade brasileira. Antes, estes focalizavam sobretudo a elite social, como se vê nas obras de Oliveira Viana e Gilberto Freyre. Com a Escola de Sociologia e Política e a Faculdade de Filosofia da USP, passaram a ser estudadas também as classes subalternas.

Isso contribuiu para democratizar as atitudes mentais, o que ilustrei com a minha experiência pessoal, pois nos anos de 1930 e 1940 cursei, além da Faculdade de Filosofia, a de Direito. Pela sua própria natureza, esta formava tradicionalmente os quadros dirigentes da nação, de maneira que os estudantes, independentemente da sua origem social, saíam com uma visão de classe dominante, enquanto na de Filosofia ocorria algo diferente: fosse qual fosse a sua origem, os diplomados saíam com um senso mais vivo da existência e dos problemas das classes dominadas. A minha tese de doutorado, por exemplo, não foi sobre o fazendeiro, mas sobre o parceiro rural. A essa tendência dei faz muito tempo a designação insatisfatória (não encontrei outra melhor) de "radicalidade de classe média", para sugerir que não se tratava de socialismo nem de revolução, mas de consciência mais aguda a respeito dos problemas sociais, devido à análise efetuada pelas disciplinas humanas.

Terminei (aí, como socialista) dizendo que os jovens deveriam ter sempre em mente a busca de maior igualdade e justiça social. Curiosamente, houve quem visse nessas considerações e no protesto contra a invasão policial do campus uma apologia à violência’.


http://www.correiocidadania.com.br/content/view/3429/9/



A USP sitiada: a coragem dos estudantes e a covardia da PM

É de estarrecer o fato de que parece comum a uma boa parte das (in)consciências hipócritas do nosso país que a Polícia Militar saia pelas ruas escorraçando e reprimindo as manifestações legítimas da sociedade civil organizada. Pra variar, no seio dessa nossa classe média entorpecida pela corrida interminável às prateleiras da sociedade de consumo, aqueles que corajosamente abrem o peito e desafiam a brutalidade das autoridades instituídas são os estudantes. Muitos dirão que eles assim o fazem porque são ingênuos, porque ainda têm muito o que aprender,etc. Mas a verdade é que eles ostentam o sonho que uma vez deu luminoso sentido às vidas de muitos adultos, velhos e até jovens que já estão mortos e não sabem.

O que aconteceu no dia 09/06 (ontem) na USP foi um pouco mais do mesmo do que ocorre costumeiramente nas ações contra movimentos sociais no Brasil, é parte do hábito de criminalizar os movimentos que denunciam as injustiças sociais, afinal é mais fácil criminalizar do que aceitar a responsabilidade pelos graves problemas sociais que enfrentamos. O padrão é sempre o mesmo: a polícia (geralmente apoiada pela mídia) afirma que foi atacada (oh! pobrezinha…tão desprotegida….) e por isto reage atirando balas de borracha, gás lacrimogênico, bombas de efeito moral, cassetadas, bordoadas, e, no caso de trabalhadores pobres (como os lavradores de Eldorado dos Carajás) ou dos próprios estudantes na época da ditadura, balas de verdade mesmo. Tudo isto ocorrido no ano que faz 40 anos da edição do Decreto 477, o AI-5 dos estudantes. Depois vão dizer que a memória não é importante…

Não podemos esquecer também que não é só porque essa violência policial aconteceu em um campus universitário que ela se torna inadmissível. A barbárie e a desumanidade tem que ser repudiada em qualquer campo ou lugar, seja ele a universidade, a favela ou o presídio.

Este é o saldo da nossa violência institucional mal resolvida. Esses soldados foram treinados para agir assim: com truculência e certos de que não serão punidos por isto. Ao invés, o medo da punição vem do não cumprimento da ordem vil, já que a hierarquia militar é implacável.

Sobre o episódio da USP, reproduzo abaixo texto publicado pela saudosa Profa. Deisy Ventura (te cuida por aí Deisy!) no seu Blog “Direito e Arte” (http://direitoearte.blog.lemonde.fr/). Abaixo do texto da Deisy, estão os links para textos e fotos sobre o episódio. Veja também relato do Prof. Dr. Pablo Ortellado, escrito enquanto a polícia descia o braço nos manifestantes (ZK, 10/06/2009).

Por incrível que pareça, o eixo do discurso oficial sobre a ocupação da USP pela Polícia Militar é uma ordem judicial, expedida in limine. A inépcia política atinge, então, até o monólogo que cerca a aguda incapacidade de diálogo das autoridades com os manifestantes. Surpreende, também, o repentino patrimonialismo de atores que têm consentido na dilapidação paulatina da universidade pública, mesclado a um desprezo rancoroso por qualquer tipo de insurgência - manifestar-se seria anacrônico, ridículo, pueril. Logo, sem vontade ou talento para construir outra cultura política, de todo desprovidos de aptidão para dissensos, diferenças e conflitos, agentes públicos recorrem ao que o Estado brasileiro sabe fazer tão bem: eliminar o conflito, humilhando quem dele discorda. O campus se torna, então, um microcosmo da violência e da ausência de comunicação que grassam no mundo. Ora, não há porta de vidro ou armário que valha um fio de cabelo ou a voz de um estudante, não importando a que grupo ou partido ele pertença. Em nossa cultura, porém, bater em pobres e militantes é esporte institucional - e quem apanha é porque “provocou e mereceu”. Em resumo, vão-se os militares, ficam os dedos. Mas quando esta liminar for legitimamente cassada (e se direito existe ela o será, sobretudo diante da cabal prova de que a Polícia Militar não sabe se portar num campus universitário) qual será o eixo do debate sobre a violência na USP? (Deisy Ventura, 10/06/2009).

Fotos:
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2009/06/448641.shtml
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2009/06/448626.shtml
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2009/06/448656.shtml

Vídeos:
http://www.youtube.com/watch?v=xwL-b6LUOb4
http://www.youtube.com/watch?v=sIVLuuag9G0
http://www.youtube.com/watch?v=YNAzxgGtGpA
http://www.youtube.com/watch?v=deUf8An9Q1o

Matérias:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u579010.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u578886.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u578870.shtml


Postado em Anistia e Memória Política, Notícias, Opinião |



LATIFÚNDIO DA INTOLERÂNCIA

Direção Estadual MST/SC

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra de Santa Catarina, denunciou aos órgãos competentes toda a trajetória criminosa ocorrida na fazenda Mato Queimado, no município de Taió/SC em janeiro de 2008, quando da primeira ação das famílias Sem Terra naquela área. Desta data até hoje outras ações aconteceram.

Relembrando os fatos: no final de janeiro de 2008, o MST ocupou a fazenda Mato Queimado, depois do Decreto de Desapropriação. A reação do “proprietário” foi violenta, de muita brutalidade, com forte esquema de segurança armada – inclusive trabalhadores de empresas - e com o acompanhamento da PM de Taió.

Resultou na intervenção do Juiz Agrário chamando para uma “Audiência de Conciliação”. No dia 07 de fevereiro de 2008, houve a audiência presidida pelo Senhor Juiz Agrário, com a presença de Representante do Ministério Público, Representante do INCRA, MST, fazendeiro e outras Autoridades, para decidir os rumos das famílias Sem Terra, que conforme relatos e nota-se pelo Poema de autoria de Mona Lisa Budel (Internet), presente no ato, foram humilhadas, desrespeitadas e apedrejadas por trabalhadores e sociedade em geral articulados para o tal acontecimento. Foi decretado ponto facultativo no município para que os trabalhadores se manifestassem contra o MST. A ordem é a não presença do MST em Taió/SC.

No dia 06 de maio, o município de Taió/SC, foi novamente palco de ação de desrespeito aos direitos humanos, de repressão da polícia militar e de demonstração de ódio, violência e discriminação dos fazendeiros com seus seguranças privados fortemente armados, contra o INCRA, Polícia Federal, Oficial de Justiça e famílias Sem Terra que acompanhavam a distancia o ato jurídico de Imissão na Posse ao INCRA.

Na manhã deste dia, a cinco Km da Cidade de Taió, um ônibus que conduzia mulheres, homens, jovens e crianças do MST, e um caminhão com os pertences destas famílias, foram abordados por Policiais em quatro viaturas. Todas as pessoas e veículos foram revistadas, sendo apreendidas as ferramentas de trabalho, e posteriormente com o grau máximo de crueldade levaram presos para o pátio da brigada militar os dois veículos. Todas as pessoas ficaram na rua, no interior do município, sem a alimentação, mochilas, remédios, colchões, cobertores. Somente com o medo e as ameaças.

Acompanharam estes veículos dois jovens acampados, que foram indagados por um policial, que propõe o retorno de imediato para o local de origem, sem problemas e sem multas. Ou, do contrário, descarregar e serem multados. E foi isto que aconteceu.

Após saquearem as famílias, o comando denunciou ao Conselho Tutelar que haviam crianças sendo maltratadas no referido local, para fazer a averiguação.

A Polícia Militar fez guarnição na entrada da propriedade, em via pública exclusivamente para não deixar Sem Terra passar. A alegação era de proteger as famílias prevendo um confronto. Sabiam eles que do lado de dentro desta barreira encontrava-se um pelotão da milícia, comandada pelo fazendeiro, fortemente armada, que segundo um Soldado, estas armas são todas legalizadas e que o fazendeiro está lá para “matar quem entrar”. Mediante a certeza, há de se questionar, qual é o papel da Polícia Militar: Proteger a sociedade ou propriedade? Ameaça de morte não é crime?

Aguardamos que o INCRA seja “imitido na posse”, fato este que figurou impossibilitado neste mesmo dia mediante barreiras feitas com utilização de tratores, cães e homens com armas de fogo e cassetetes de origem suspeita. Os servidores do INCRA, o Oficial de Justiça e os dois Policiais Federais desistiram da ação pelo alto grau de ameaças.

Seguimos com todas as famílias para a comunidade do Assentamento 25 de maio, em Santa Terezinha/SC, a 70 Km aproximadamente do local, onde estão concentradas, muito embora ainda vigiadas a longa distância pelos comandantes Taioenses.

Este fato foi relatado em reunião com várias Entidades recebidas pelo Comandante Geral da Polícia Militar, Coronel Eliesio Rodrigues, no Quartel General da Polícia Militar no dia 24 de abril de 2009, antes desta Jornada.

Reconhecemos o “poder de dominação” que existe no município, onde na grande maioria as pessoas são usadas para o enfrentamento. Dialogamos com a comunidade de Taió que revela um outro sentimento com relação ao MST e aos próprios “mandatários”. Reconhecemos os Trabalhadores e Trabalhadoras que se sentem aprisionados(as) por ameaças.

Buscamos romper com o latifúndio da Terra para produção da vida social, e rompendo acima de tudo com o latifúndio da intolerância, que não permite o desenvolvimento da vida com dignidade.


Direção Estadual MST/SC


REFORMA AGRÁRIA: POR JUSTIÇA SOCIAL E SOBERANIA POPULAR

Florianópolis, 17 de junho de2009.



24 de junho de 2009

É preciso desmontar a máfia do Senado

Por José Nery - Senador PSOL-PA

A prolongada e grave crise ética do Senado é um espelho dos problemas não resolvidos pela democracia brasileira. Formalmente somos um país que exercita periodicamente a consulta ao povo para eleger seus representantes. Na verdade, o financiamento privado das campanhas eleitorais, a cultura patrimonialista enraizada na máquina estatal e a impunidade dos delitos contra o erário público dão contornos elitistas e incompletos para esta democracia. O predomínio do poder econômico nas definições políticas, seja elegendo diretamente afilhados políticos, seja por meio de eficientes lobbys, destrói a legitimidade das decisões do Parlamento brasileiro.

A recente crise que arrasta o Senado para o mais profundo desgaste político é fruto deste contexto. Agrega-se a isto a existência de uma azeitada máfia, incrustada nos principais setores administrativos, que cresceu com o apoio e ou omissão de seguidas mesas diretoras. A edição de atos secretos é apenas um pedaço do iceberg. Temos todos os contratos de prestação de serviços terceirizados sob suspeita e até a concessão de empréstimos consignados foram afetados pelos esquemas de corrupção.

Em termos gerais a crise ética precisa ser enfrentada com uma profunda reforma política que, entre outras mudanças, estabeleça o financiamento público de campanha, formas de participação direta dos cidadãos nas decisões do Parlamento e total transparência de seus atos para a sociedade.

É preciso reverter a cultura de impunidade, desenvolvendo uma verdadeira operação mãos limpas, começando a mandar para a cadeia os corruptos provisoriamente presos pela Polícia Federal e soltos em seguida pela Justiça. A sociedade não voltará a acreditar no Estado sem uma demonstração de que os poderosos também podem ser punidos.

A crise imediata do Senado passa pela saída do atual presidente da Casa, senador JOSÉ SARNEY, que não possui condições políticas para continuar dirigindo a Casa e tem vínculos estreitos com os principais acusados de pertencer a máfia ali instalada. As constantes denúncias envolvendo nomeações irregulares de familiares do presidente Sarney tornaram ingovernável a sua gestão.

Passa também pela instalação imediata de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar a fundo, quebrar o sigilo bancário e telefônico de todos os servidores envolvidos e descobrir todos os vínculos da máfia, inclusive com senadores. O resultado dessa investigação deve orientar uma profunda reforma administrativa na Casa, além da adoção de medidas transparentes que permitam maior controle da sociedade sobre exercício da atividade parlamentar.

Infelizmente a trajetória anterior do Senado foi de não punir e nem de investigar a fundo. A ação que desenvolvemos para cassar os mandatos de senadores envolvidos em fatos que caracterizavam quebra de decoro parlamentar foi abortado pela cultura da impunidade.

Espero que a atual crise sirva de lição. O Senado Federal só tem importância para a sociedade se conseguir aproveitar a atual crise e desmontar por completo a verdadeira máfia que se instalou no seu interior. É bem provável que esta máfia tenha laços com senadores, por isso cabe apuração rigorosa de todos os fatos e punição exemplar dos envolvidos, sejam eles servidores ou parlamentares. É o mínimo que a sociedade espera.

Fonte: Jornal do Brasil - 24.06.2009



19 de junho de 2009

Camponês é executado em área de conflito agrário no Pará

Da Radioagência NP

O corpo do camponês Luiz Lopes Barros foi encontrado com características de execução em Conceição do Araguaia, cidade do sudeste do Pará, nesta semana. Luiz foi uma das lideranças da ocupação da Fazenda Forkilha, em 2007, quando o governo de Ana Júlia (PT) iniciou a operação “Paz no Campo”.

Vista como uma ação de terror pelos camponeses, a operação possibilitou o levantamento dos nomes das lideranças que até hoje são perseguidas.Uma nota de repúdio à violência do campo, assinada por diversas instituições, solicita que um advogado acompanhe o caso e que os trabalhadores tenham seus direitos efetivados.

O senador José Nery (PSOL) acredita que desde as tensões de 2007, há um conflito constante com as lideranças.

“Os líderes desse movimento no Sul do Pará, total de 17 lideranças, passaram a constar em uma lista de marcados para morrer, ou seja, marcados pelos fazendeiros. É um massacre, é inaceitável que trabalhadores sejam assassinados por lutar pelo direito a terra, à vida, do direito de produzir.”

O senador aponta que o governo do Pará tem se posicionado contra a luta dos camponeses.“A prova de que o governo tem responsabilidade é quando autoriza a ação para retirar camponeses que ocupam fazendas, muita delas frutos de grilagem. A meu ver, isso configura uma ação do governo que acaba por proteger latifundiários criminosos.”

O Pará, palco de muitos conflitos agrários, teve a região sul do estado tomada por interesses de grandes frigoríficos. A área equivale ao tamanho do estado do Rio de Janeiro e possui um dos maiores rebanhos bovinos do país.




16 de junho de 2009

Paralisação do INSS é emblemática da luta dos trabalhadores vitimados pela crise

Escrito por Gabriel Brito

Em 2008, o mundo assistiu ao aprofundamento de uma crise econômica que fez ruir vários dos paradigmas vigentes, até então impassíveis de discussão, que vangloriavam um suposto funcionamento eternamente harmônico do mercado e seus agentes. Com as quebras e falências monumentais, governos passaram imediatamente a buscar soluções, ou atenuantes, rápidas para o colapso e os ideólogos do modelo fracassado não se enrubesceram por virar a casaca e defender a mão firme e reguladora do Estado.

Os especialistas que em suas análises levam em conta o ponto de vista do trabalhador alertaram prontamente para que a fatura do crash econômico acabaria, como já historicamente comprovado, sendo repassada à população comum, aquela que não aplica seus ganhos no mercado financeiro e nem especula com o crédito ou a oferta de alimentos. A mão do Estado acabaria, inelutavelmente, por mergulhar no bolso dos cidadãos, para dar conta das implosões que o setor privado causou nos mais diversos, e essenciais, segmentos.

Dentro dessa lógica, a solução que passou a ser adotada em cadeia foi a de demitir funcionários das empresas que acumularam os maiores prejuízos com o estouro da bolha financeira. O corte massivo de vagas foi, no entanto, desnecessário e até mesmo acintoso, uma vez que as empresas que o adotaram foram, em grande parte, aquelas que mais se locupletaram com a prosperidade econômica – algo reconhecido até mesmo pelos analistas mais conservadores.

A profundidade da crise aliada à insistência em se passar os ônus ao trabalhador, sempre na tentativa de ressuscitar a mesma lógica sistêmica, pode, entretanto, oferecer um coquetel reabilitador às classes populares. Como visto, manifestações massivas contra a crise e o próprio capitalismo ocorreram por todos os cantos do globo. Londres (em plena reunião do G-20), Atenas, Lisboa, Paris e muitos outros locais já testemunharam calorosas ondas de insatisfação popular.

"Vivemos algo parecido ao início do século 20. Nessa época, fazendo um paralelo geofísico, as placas tectônicas se movimentaram. Tivemos revoluções, o nascimento e morte do chamado bloco soviético, enfim, uma reorganização muito grande do mundo. Agora, começamos o século 21 com as placas também nervosas, se mexendo. Temos uma temperatura social que coloca, em nível mundial, as forças do trabalho em oposição às do capital", afirmou o sociólogo Ricardo Antunes em recente entrevista ao Correio.

Neste contexto, encaixam-se também as lutas de trabalhadores brasileiros, fortemente golpeados pela crise. Ainda que seus efeitos não tenham sido tão devastadores por aqui, milhares de postos de trabalho foram cortados, além de terem sido anunciadas possíveis dificuldades em se honrarem os acordos com o funcionalismo público.

O governo federal, ao mesmo tempo em que prepara diversas medidas com vistas a melhorar a qualidade e eficiência do serviço público, faz, contraditoriamente, vários cortes de orçamento. "O governo anunciou no ano passado a abertura de 1000 novas agências do INSS e novos concursos. Porém, realizou cortes no orçamento e mesmo assim quer manter o cronograma", diz Junia Gouveia, do comando da greve dos servidores do INSS, marcada em caráter nacional para o dia 16 de junho.

Em defesa dos direitos

Os servidores públicos vêm passando já há alguns anos por seguidas tentativas de fragilização de direitos conquistados ao longo de décadas de lutas populares. Com a atual crise, figuras simbólicas do patronato, como Roger Agnelli, Paulo Skaff e Benjamin Steinbruch, defenderam tais medidas como necessárias e inescapáveis, aviso mais que suficiente para que se compreendesse que elas seriam de fato perpetradas.

No caso específico do servidor da previdência, a greve foi apontada como a forma de impedir que o governo pratique arrocho sobre os salários, com o aumento da jornada e a imposição da produtividade, através da variação da GDASS, a gratificação a que têm direito os funcionários. Tal mudança refletiria o ‘caráter produtivista’ da política governamental. A bonança, que antes equivalia a cerca de 15% do rendimento do trabalhador, pode ficar na casa dos 50%, o que atrelaria completamente o salário do servidor ao alcance de metas.

"O que queremos são boas condições para fazer o atendimento, manutenção da jornada de 30 horas sem redução salarial e reestruturação das carreiras", diz a dirigente. "Assim como em relação aos bancários, a OMS recomenda que a jornada no serviço público, que inclusive tem mais atribuições, seja de no máximo 30 horas semanais", completa.

De acordo com a dirigente, as atuais diretrizes de funcionamento da máquina pública atentam até contra seus próprios princípios, referenciados na qualidade, e não na quantidade. "Há um conceito de resolutividade no serviço público, que é o de concentrar esforços na solução dos problemas do público, e não somente atingir metas numéricas, como quer o governo. Não adianta fazer 50 atendimentos e não resolver nenhum problema trazido pelo indivíduo", assinala Junia.

A tentativa governamental de aumento da jornada vem se dando através de pressão nos locais de trabalho, especialmente para a assinatura do termo de opção no qual o servidor escolhe entre manter a jornada de 30 horas e reduzir seu salário ou fazer 40 horas para que o vencimento siga igual. Com isso, como já alertado neste Correio em matéria sobre a ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, o governo economiza um alto quinhão ao não realizar novas contratações.

"É tudo uma questão de prioridade. O governo não deu R$ 300 bilhões, até mais, aos bancos? Não fez um empréstimo de R$ 4,5 bilhões ao FMI? Fora isso, os encargos da dívida pública consumiram R$ 233 bilhões no ano passado. Sendo assim, não se pode alegar falta de dinheiro, trata-se apenas da prioridade do governo", aponta Washington Lima, economista que trabalha para o Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário Federal (Sintrajud) – o governo federal anunciou mais R$ 10 bilhões de empréstimo ao FMI após a entrevista.

"É por isso que queremos também realizar um abaixo-assinado com grande adesão popular para a abertura de uma CPI da previdência. Inventaram a DRU (Desvinculação de Receitas da União) para desviar recursos constitucionalmente dirigidos à previdência e agora queremos saber onde foi parar esse dinheiro todo, queremos entender por que a previdência não tem dinheiro", questiona Junia.

Para a professora da UFRJ Denise Gentil, autora de tese de mestrado que desconstrói o que ela considera ‘falsa crise na previdência’, a política de cortes de investimento no setor público acompanha as transformações sócio-econômicas vividas nas últimas décadas. "A idéia de falência dos sistemas previdenciários públicos e os ataques às instituições do welfare state (Estado de bem-estar social) tornaram-se dominantes em meados dos anos 1970 e foram reforçadas com a crise econômica dos anos 1980. O pensamento liberal-conservador ganhou terreno no meio político e no meio acadêmico", constatou, em entrevista ao veículo interno de sua Universidade.

Através de um forte discurso midiático, o governo passa ao público a idéia de que toma atitudes que visam melhorar a prestação de serviço (como a medida que obrigava o atendimento em no máximo 30 minutos), e que só depende do servidor realizá-las de modo satisfatório. Omite que as condições de trabalho são cada vez mais precárias, que o índice de adoecimento de trabalhadores cresce exponencialmente e que a falta de novos funcionários, que se deve à inexistência de concursos, é clara em algumas agências.

"Faz tempo que muito se reclama sobre a falta de investimento em saúde previdenciária e assistência social. Ao ignorar isso, o governo também reforça suas políticas de privatização nas respectivas áreas, desprestigiando o que é público. Com uma CPI poderíamos saber por que o governo não investiu nessas áreas", diz Junia.

Desvios de ‘conduta’

"Para dizer que não tem dinheiro, o governo anuncia prejuízo do Banco Central, esse ano previsto para R$ 24 bilhões. Mas isso porque deixa títulos na bolsa de Nova York e assume o prejuízo dos bancos. Porém, a arrecadação também segue ótima, no último mês foi de 57 bilhões de reais. O total da folha dos servidores é da ordem de 168 bilhões/ano, portanto, pode-se dizer tranquilamente que o governo pode realizar novos concursos, contratações, além de cumprir com os reajustes", assinala Washington.

Com uma Constituição ainda jovial, por vezes fica fácil esquecer o peso social carregado pela previdência, assim como dos (sólidos) fundamentos de seu financiamento. "Defendo a idéia de que o cálculo do déficit previdenciário não está correto, porque não se baseia nos preceitos da Constituição Federal de 1988, que estabelece o arcabouço jurídico do sistema de Seguridade Social", argumenta Denise.

Em sua tese, assim como nas entrevistas que concede, Denise esclarece prontamente a razão que torna as contas equivocadas. "O cálculo leva em consideração apenas a receita de contribuição ao INSS que incide sobre a folha de pagamento, diminuindo dessa receita o valor dos benefícios pagos aos trabalhadores. O resultado dá em déficit. Essa, no entanto, é uma equação simplificadora. Há outras fontes de receita não computadas, como a COFINS, a CSLL e a receita de loterias. Isso está expressamente garantido no artigo 195 da Constituição e acintosamente não é levado em consideração", explica.

"Fiz um levantamento da situação financeira do período 1990-2006. De acordo com o fluxo de caixa do INSS, há superávit operacional ao longo de vários anos. Em 2006, para citar o ano mais recente avaliado, esse superávit foi de R$ 1,2 bilhão", conta a professora. Além da incorreção no cálculo do suposto déficit previdenciário, ainda há que se lidar com a famosa DRU, que, a partir da lógica fiscalista do governo, transfere recursos da seguridade para que se garanta o cumprimento do superávit fiscal (receitas menos despesas, exceto juros). "Em 2006, o excedente de recursos do orçamento da Seguridade foi de R$ 72,2 bilhões. Cerca de R$ 38 bilhões foram desvinculados da Seguridade para além do limite de 20% permitido pela DRU (Desvinculação das Receitas da União). Há um grande excedente de recursos no orçamento da Seguridade Social que é desviado para outros gastos".

Além de ressaltar a farsa contábil constituída pelo ‘déficit’ da previdência, no mínimo um erro de interpretação dos dispositivos constitucionais, Gentil acrescenta que, "ainda que tal déficit existisse, a sociedade, através do Estado, decidiu amparar as pessoas na velhice, no desemprego, na doença, na invalidez por acidente de trabalho, na maternidade. São direitos conferidos aos cidadãos de uma sociedade mais evoluída, que entendeu que o mercado excluirá a todos nessas circunstâncias".

Capital em detrimento do trabalho

Conforme apontam alguns economistas, a opção clara do governo em atender às prioridades dos setores dominantes pode acabar se tornando contraproducente, de modo a tornar demasiadamente lento e sacrificante o processo de superação da crise.

"O governo deu dinheiro aos bancos para incentivar o crédito, mas eles preferiram comprar títulos públicos e com isso o crédito estagnou. Se quer reaquecer a economia, o governo deveria investir nos salários, aumentar o rendimento das pessoas, pois o trabalhador comum faz esse dinheiro circular na economia, ao invés de guardar em aplicações. Ao promover arrocho, o governo deteriora a crise", analisa Washington.

Ademais, o discurso que apregoa ao público que a seguridade social configura despesa traz embutido o velho argumento fiscalista, que escamoteia a realidade e inverte prioridades. "O que acontece é que existe um grande interesse na previdência por parte de fundos de pensão, seguradoras. Por isso devemos nos unir na luta com diversos movimentos sociais, pois há hoje uma potencial e ampla, além de sutil, política de privatizações, e que atinge todas as áreas de interesse da população", situa a dirigente Junia.

A compreensão da dimensão da débâcle econômica sobre a vida dos setores populares é exatamente o combustível que pode fortalecer a resistência às políticas que nada mais fazem a não ser socializar perdas. É pelo inconformismo em ter de lutar tanto, e não para aumentar, mas apenas para manter direitos, que os servidores voltam a unir forças em torno de uma paralisação nacional.

"Vemos no dia-a-dia das agências que a população apóia e se solidariza com a greve. Claro que é fácil entrevistar um ou dois cidadãos insatisfeitos na fila e criar factóide. Mas depois do refluxo do movimento de massas, vivemos um ano que já é diferente, com mais efervescência nos movimentos sindical e popular. Porém, devemos nos atentar para que, às mobilizações, deve se somar um projeto, para que tenhamos para onde caminhar, o que fez falta, por exemplo, na Argentina em 2001", finaliza Junia Gouveia.

Gabriel Brito é jornalista.