24 de abril de 2010

Sinhá Moça é parte da Casa Grande! E não da Senzala.


Por Willian Luiz da Conceição

Acredito que muitos dos leitores já tenham assistido, pelo menos parte de um capitulo da telenovela Sinhá Moça produzida pela Rede Globo.
A primeira versão da novela foi apresentada em 1986, escrita por Benedito Ruy Barbosa e contava nesta primeira versão em seu elenco com Lucélia Santos e Marcos Paulo.

A telenovela foi readaptada em 2006 com novo elenco formado por Débora Falabella e Danton Mello entre outros, agora em 2010 a novela está sendo reprisada em “Vale a Pena Ver de Novo”.

No enredo busca-se representar o contexto que vivia o país principalmente em 1887, um ano antes da abolição formal da escravidão no Brasil. A trama ocorre em uma cidade do interior de São Paulo chamada Araruna onde monarquistas e republicanos (abolicionistas) enfrentam-se entre aqueles que buscam conservar o trabalho forçado de negros e os que buscam abolir a escravidão.

Como todas as novelas de época, busca-se um certo contexto histórico da realidade brasileira (na maioria das vezes sem sucesso), este é carregado com muito romantismo para agradar os paladares de quem as assistem sem muito senso crítico.

Nesta novela pode se perceber algo que esteve muito presente nas ciências sociais e na literatura do século XX (como Gilberto Freyre), a velha idéia e maneiras que fortaleçam a construção no imaginário brasileiro de um país mestiço e de democracia racial.

O que pouco se vê nas novelas como Sinhá Moça é a ação e luta dos escravos para sua própria libertação, talvez por está ficar apagada as sombras das boas intenções de brancos advindos do escravismo.

A ação do sinhozinho branco e abolicionista nos últimos anos até a efetivação formal (e não real) em 1888 em meio à efervescência internacional de ver a ultima e sofrida abolição ser efetuada, fica acima na teledramaturgia de milhares de revoltas de negros que pipocavam em todo o território brasileiro. Sinhá Moça representa a visão da casa grande (senhores) acerca do processo de abolição.

Levantes como em 1756 e 1864 em Minas Gerais, a revolta dos Malês em 1835 na Bahia e os milhares de quilombos formados a partir de fugas e conflitos contra o escravismo, ficam abafados pela TV comercial brasileira, na tentativa de enganar a todos com o velho discurso de passividade dos negros com sua situação, negando-os como sujeitos históricos em meio a bondade de senhores brancos em um sistema já falido social e economicamente.
Sinhá Moça, como tantas outras novelas buscam apagar de nossa memória e história a luta de resistência dos escravos que ajudaram a construir este país. Ainda hoje, seus descendentes sofrem os reflexos de quase quatro séculos de dominação, isso também querem apagar.


Willian Luiz da Conceição é acadêmico de História e pesquisador da temática de afro-descendência. ligaspartakus@gmail.com

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