10 de agosto de 2010

Exposição Fotográfica: Diálogos Afrobrasileiros

De 09 à 20 de agosto, ocorrerá no hall do Centro de Filosofia e Ciências Humanas – CFH/UFSC, a "Exposição Fotográfica: Diálogos Afrobrasileiros" realizada pelos estudantes da Disciplina de Estudos Afrobrasileiros do Curso de Ciências Sociais da UFSC de coordenação da Profª Ilka Boaventura Leite, dotora em Antropologia Social e organizada pelos acadêmicos Tamar Guimarães, Thania Cristina dos Santos, Roberta Cristina Araújo e Willian Conceição.


Diálogos Afrobrasileiros


Desde 1986 diversos cursos sobre temas afrobrasileiros foram ministrados na graduação em Ciências Sociais do CFH/UFSC. Em 2010, vinte e quatro anos depois, este conteúdo curricular finalmente se integrou ao rol de disciplinas obrigatórias do curso.
Fato histórico? Sim, não e talvez.

Sim, porque representa a persistência e a consagração de um debate que esteve marginalizado durante muito tempo nas universidades brasileiras. Consolida um direito à educação de qualidade, responsável, crítica e livre de preconceitos.

Não, porque isto acontece em momento de destaque e até de projeção do assunto no país, enquanto um dispositivo legal (Lei 10.632) e política pública (Estatuto da Igualdade Racial), significando, portanto, não propriamente uma ação de vanguarda, mas um assunto da ordem do dia.

Ainda, TALVEZ, porque representa esperança, numa via de consolidação de um campo de pesquisas e formação de sujeitos sociais informados e responsáveis, pesquisadoras e pesquisadores cientes da realidade que envolve as populações de África e diásporas africanas no Brasil e no mundo.

Neste novo contexto, soa até incompreensível que questões tão flagrantes e diretamente ligadas à vida brasileira não tenham sido até aqui plenamente contempladas no currículo do curso de Ciências Sociais – programa de estudos criado para formar profissionais voltados às questões sociais mais pungentes. Contudo, esta persistência resultou bem: em mais de duas décadas e em tão poucos cursos ministrados – muitos alunos sensíveis a essas questões se formaram na UFSC, se tornaram professores e professoras, pesquisadores e profissionais em diversos campos, alguns deles, inclusive, sendo os próprios agentes dessas mudanças assinaladas.

Esta exposição comemora uma vitória através dos trabalhos desta turma pioneira de 2010. Ao longo de um semestre, o curso desenvolveu um programa de estudos sobre a epistemologia dos estudos afrobrasileiros - os principais autores, temas, teorias e metodologias.

Neste momento de comemorações me sinto honrada em apresentar resultado tão surpreendente, que testemunha envolvimento e criatividade das alunas e alunos da UFSC quando desafiados a buscar neste campo de estudos imagens em diálogos através da fotografia e da escrita.

Esta exposição reúne e exibe principalmente a coleção de fotos produzidas pela turma de 2010. Cada foto procura dialogar com um texto já publicado e de autoria consagrada, compondo um universo de impressionantes fragmentos e revelando a instigante formação da cultura brasileira, propondo reflexões, sugerindo infinitas possibilidades de leituras, inspirando novas pesquisas.

Ilka Boaventura Leite
Dra. em Antropologia Social
Professora de Estudos Afrobrasileiros
Curso de Ciências Sociais da UFSC

7 de agosto de 2010

Armas, cavalos e escavadeiras

Que Oxála tenha pena, destas velhas mãos calejadas pelo tempo, que enfrentam as cercas da injustiça e da impunidade nos Areais da Ribanceira, aos mares de Imbituba.

Tenha pena, sim! Pois já que os governos que nos cabem respondem pela concentração de terras, geradora da miséria que constitui a realidade infame, que podemos constatar nos campos e nas cidades.

Lá vem a polícia! Grita simples senhora. Armas, cavalos e escavadeiras é o que enfrentam em busca de áreas a reproduzir suas tradições alimentares. Talvez habito arcaico que já não cabe as sociedades modernas, dizem, onde na vastidão dos campos não se vê mais homens e sim maquinas – a trabalhar.

Hoje as cercas do latifúndio e a impunidade de políticas públicas que as enfrente-as excluem cerca de cinco milhões de famílias de trabalhadores rurais de viverem dignamente de um patrimônio da humanidade, cercado e a beneficio de poucos.

Em Santa Catarina não é diferente, o avanço da monocultura do pinus, do eucalipto, assim como as transnacionais formam bolsões de pobreza nas áreas rurais e fortalecem o êxodo rural.

A realidade sentida nos Areais da Ribanceira em Imbituba onde trabalhadores tradicionais que ocupam a região à décadas e reivindicam sua posse desde os anos 70, passam por ação de despejo pela “polícia militarizada do tempo”, dos governos e dos poderes econômicos – reforça a impunidade do desgoverno social que temos.

Que Oxála além de pena, carregue essa gente sofrida de garra, lutas e vitórias.


Willian Conceição é acadêmico de História da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC, militante do PSOL/SC e pesquisador de relações inter-étnicas.

ligaspartakus@gmail.com